Desse ponto de vista, mas não só, a viagem à China foi um êxito.
É compreensível que a mídia brasileira registre e repercuta a ida de Lula à China. Não é todo dia que um presidente da República visita o terceiro mais extenso país do mundo, o segundo mais populoso, dono da segunda maior economia do planeta, e com mais de 5.800 mil anos de civilização. Bolsonaro não pôs os pés por lá.
Inusitado é que a mídia mundial também o faça e com tamanho destaque. Em parte, deve-se à volta do Brasil à cena internacional depois de quatro anos de isolamento, mas também, e em grande medida, à história de vida de Lula, à recepção que a China lhe ofereceu e ao que ele disse sobre a guerra Rússia x Ucrânia.
Bolsonaro visitou Moscou às vésperas da guerra, quando a Ucrânia já estava cercada por tropas russas; solidarizou-se com o presidente Vladimir Putin e afirmou que não haveria guerra. Sua estadia ali praticamente foi ignorada pelo resto do mundo. Ninguém o levava em conta. O peso de suas palavras era nenhum.
Lula deve estar se deliciando com o que escrevem e dizem mundo afora sobre seu encontro com o presidente chinês Xi Jinping. Falem de mim! Falem mal, mas falem. O Brasil está de volta, eu estou de volta, e o mundo vai ter que me engolir, principalmente os que me consideravam politicamente morto.
Aqui, muitos deram Lula como enterrado. Lá fora, a mídia foi mais condescendente com ele e mais desconfiada com os métodos usados pela Lava Jato para condená-lo. Com frequência, presidentes aproveitam viagens ao exterior para falar ao seu país. Antes em Washington, agora em Pequim, Lula falou para o mundo.
Hoje, falará outra vez quando receber em audiência o chanceler da Rússia, Serguei Lavrov, o segundo homem mais poderoso do seu país. Lavrov inicia pelo Brasil seu giro por países da América Latina tidos como adversários dos Estados Unidos. O Brasil não é um deles. Apenas quer reafirmar sua posição de independência.
Poderia fazê-lo sem a estridência empregada por Lula em Pequim. Mas se não fosse estridente, Lula talvez não tivesse chamado tanta atenção. Bolsonaro hostilizou o quanto pode a China, o maior parceiro comercial do Brasil, alinhando-se aos Estados Unidos de Donald Trump, o segundo. E desprezou o presidente Joe Biden.
Trump nunca visitou a América Latina; Biden, ainda não. Como vice de Barack Obama, Biden desembarcou em Brasília em 2014 para desculpar-se com a presidente Dilma Rousseff, espionada pelos Estados Unidos; e foi a Natal assistir a uma partida da Copa do Mundo: Estados Unidos 2 x Gana 1.
*Blog do Noblat