Brasil de Fato — Um alerta recente da Agência Europeia de Segurança Alimentar voltou a jogar luz sobre a presença de um composto químico cancerígeno em alimentos, remédios e até na água.
No Brasil, apesar de nenhuma ocorrência grave recente, as nitrosaminas também são uma preocupação. O controle é feito pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a indústria precisa seguir normas sobre a presença do composto.
A exposição às nitrosaminas dentro de limites seguros traz baixo risco à saúde. No caso da Europa, no entanto, a autoridade sanitária identificou níveis superiores aos aceitáveis em alimentos comuns do cotidiano. Na lista estão embutidos como salames e presuntos, peixes e legumes processados e até cerveja.
Mychelle Alves Monteiro, chefe do Laboratório de Medicamentos, Cosméticos e Saneantes do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (INCQS/Fiocruz), afirma que as informações da Agência Europeia ampliam ainda mais a percepção de que o controle é essencial.
“Em 2018, nós tivemos conhecimento da presença dessas substâncias em medicamentos da classe das sartanas, utilizados de forma contínua para o tratamento de hipertensão arterial. Se em casos dos medicamentos já houve vário recolhimentos feitos por agências regulatórias no mundo inteiro, somado a isso, você ter esse estudo na Europa com a presença dessa substância nos alimentos, temos que pensar em como esse efeito sinérgico pode acontecer.”
No laboratório chefiado por Mychelle Alves Monteiro, a equipe atua na análise e na produção de laudos sobre a presença da substância em determinados produtos. As conclusões são repassadas para a Anvisa, responsável pelas decisões regulatórias posteriores.
A pesquisadora explica que a substância tem potencial carcinogênico, mutagênico e genotóxico. Ela lembra que a ranitidina, por exemplo, foi banida do Brasil porque não havia como ter controle da produção de nitrosaminas na síntese do insumo farmacêutico ativo.
“Outros medicamentos também há relatos da presença de nitrosaminas, além da possível presença em água, vegetais e até mesmo em cigarros. As pessoas precisam se alimentar, consomem água, utilizam medicamentos, há pessoas que são fumantes. Já pensou se vem um pouco de nitrosamina em cada fonte dessas. Você tem um acúmulo muito grande.”
Com base em autoridades regulatórias internacionais, a Anvisa estabelece limites para ingestão aceitável de nistrosamina. Quando a fiscalização identifica um valor acima do permitido, a agência estabelece as medidas apropriadas, como o recolhimento do medicamento ou ações específicas com a indústria.
A pesquisadora ressalta que as medidas de controle precisam ser efetivamente implementadas por toda a cadeia envolvida na fabricação de produtos que podem conter nitrosaminas. É fundamental que as agências regulatórias, indústria farmacêutica, produtores de alimentos e demais campos envolvidos atuem.
“É importante ter o alerta, principalmente na área da saúde, para que, de fato, haja ações efetivas, para que se controle essas substâncias tanto em alimentos no seu processamento, medicamentos na sua produção. Para que não exista a presença dessa substância, devido ao seu potencial risco à saúde.”
Na Europa, a autoridade sanitária encontrou 10 tipos de nitrosaminas nos produtos avaliados. A análise concluiu que há risco para todas as idades. Os resultados serão apresentados à Comissão Europeia, para o encaminhamento de medidas em todo o bloco.