Confira o discurso emocionado do ministro de Direitos Humanos e Cidadania, após chacina em creche de Blumenau.
Era um dia de celebração para o Ministério de Direitos Humanos e Cidadania, que apresentaria a cartilha do novo Conselho Tutelar, criado pela pasta para proteger os direitos das crianças e adolescentes, nesta quarta-feira (05). Mas os planos mudaram com a chacina à creche em Blumenau, Santa Catarina. E o ministro Silvio Almeida mudou o discurso, desta vez com palavras improvisadas e emocionadas, concluindo que o Brasil está “falhando miseravelmente” com as crianças.
“Um país que mata criança é tudo menos democracia”, lamentou o ministro. “Nós falhamos miseravelmente com Bernardo Cunha Machado, de 5 anos, com Bernardo Pablo da Cunha, de 4 anos, Larissa Maia, de 7 anos, Enzo Marquezine Barbosa, de 4 anos. Esses são os nomes das crianças que foram assassinadas hoje. Não está bom. A gente não está indo bem. A gente está falhando, miseravelmente.”
Nas falas, Almeida ressaltou a responsabilidade do governo e também das empresas na construção de uma sociedade que “cultua armamentos” e “conspirações”, que “só são possíveis diante da omissão que elas [empresas de redes sociais] alimentam, diante de uma economia da atenção que vai gerando o ódio”.
Trechos do discurso:
“Eu tinha preparado algo para falar hoje, com muita alegria, com muita satisfação, de mais um um trabalho de retomada de recomposição do Mistério de Direitos Humanos da Cidadania com participação na sociedade civil que é justamente da cartilha, só que eu não estou feliz.”
“Eu não estou feliz hoje. Hoje não é um dia de festa, é um dia de tristeza.”
“Eu não vou repetir aqui algumas palavras que se tornam até uma certa muleta retórica para administradores públicos, e falo isso com todo o respeito porque sou um, me tornei um, que é falar de democracia, republicanismo, democracia participativa. Isso tudo, no máximo, é uma busca, é um caminho que nós temos que percorrer para fazer isso acontecer, mas, na verdade, é o seguinte: um país, um mundo né, que mata criança, é tudo menos democracia.”
“É tudo menos um mundo decente. Eu sinto ter que dizer isso hoje, mas eu estou dizendo isso hoje porque é só assim que a gente vai conseguir entender o que nós temos que fazer para mudar. Senhoras e senhores, nós estamos falhando miseravelmente com as crianças, com os adolescentes. Nós estamos falhando miseravelmente com as pessoas que mais precisam de nós, nesse país, e nós temos que admitir isso para poder dar um passo para frente.”
“É culpa da sociedade brasileira, do estado brasileiro, da maneira como nós temos tratado as crianças e adolescentes nesse país, há muito tempo, a maneira como a sociedade em geral, os governos, eu diria que as entidades todas, as empresariais, todo mundo, do jeito que nós temos tratado as crianças esse país.”
“Porque vejam nós estamos falando de crianças que foram assassinadas hoje, mas há outro jeito de matar crianças também, né? Que nós temos cultivado isso e normalizado isso há muito tempo. Temos permitido que criança passe fome no Brasil, crianças morrem de fome, nós temos permitido que crianças fiquem sem escola.”
“Nós falhamos, miseravelmente, com Bernardo Cunha Machado, de 5 anos, com Bernardo Pablo da Cunha, de 4 anos, Larissa Maia, de 7 anos, com Enzo Marquezine Barbosa, de 4 anos. Esses são os nomes das crianças que foram assassinadas hoje. Não está bom. A gente não está indo bem. A gente está falhando, miseravelmente.”
“Então a gente pode falar de democracia, de participação social, de republicanismo, mas na verdade que nós estamos fazendo é criando uma sociedade em que pessoas acham absolutamente normal fazer culto a armamentos. Em que empresas de rede social acham absolutamente normal dizer que não tem nenhuma responsabilidade diante de conspirações, que só são possíveis diante da omissão que elas alimentam, diante de uma economia da atenção que vai gerando ódio.”
“Nós estamos matando. Inclusive, eu falo isso porque eu vou ser pai. Eu estou falando isso porque nós vamos ser pais, em breve, dos primeiros filhos. Nós estamos construindo uma sociedade miserável.”
“Nós estamos correndo risco de entregar o mundo pior para as pessoas que vem depois de nós. Isso é terrível.”
“Nós vamos esperar chegar num número, dos Estados Unidos, que é o país que é modelo para muita gente aí, de 300 ataques por ano em escolas, com essa gente cultuando a arma, com essa gente querendo dar golpe de estado no Brasil? Querendo mais é que as pessoas morram de fome e que criança e adolescente não tenha um futuro? Eu não me conformo com isso. Eu não quero viver num mundo assim, eu não quero viver num mundo desse! Eu me recuso a viver no mundo assim!”
*Com GGN