Jessica Senra, apresentadora de afiliada da Globo na Bahia, usou parte de telejornal para dar uma aula sobre xenofobia a Sandro Fantinel, que atacou trabalhadores vítimas do trabalho análogo à escravidão.
A jornalista Jessica Senra, âncora do “BA Meio Dia”, telejornal da TV Bahia, afiliada da Rede Globo no estado, usou parte da edição de seu programa desta quarta-feira (1) para dar uma verdadeira aula sobre xenofobia ao vereador Sandro Fantinel, de Caxias do Sul. Bolsonarista, Fantinel, na terça-feira (28), usou a tribuna da Câmara Municipal de sua cidade para atacar trabalhadores baianos vítimas do trabalho escravo com um discurso repugnante e xenófobo.
Em sua fala, Fantinel relativizou o escândalo dos mais de 200 trabalhadores – a maioria da Bahia – resgatados em situação análoga à escravidão em uma empresa terceirizada que oferecia mão de obra para as vinícolas Salton, Aurora e Cooperativa Garibaldi, em Bento Gonçalves (RS), e afirmou que os nordestinos, a quem ele se referiu como os “lá de cima”, seriam “sujos”, sugerindo que as empresas gaúchas do ramo contratem apenas argentinos.
O vereador disse que nenhum lugar que contratou argentinos em vez de baianos teve “esse tipo de problema”, se referindo ao trabalho análogo à escravidão, e ainda afirmou que a “única cultura” dos trabalhadores da Bahia “é viver na praia tocando tambor”.
Jessica Senra protagonizou um momento histórico ao vivo ao rebater Sandro Fantinel.
“Esse vereador ficou revoltado porque os trabalhadores escaparam e denunciaram as condições degradantes. A gente toca até tambor muito bem, temos praias lindas. Mas nossa cultura não é só isso, não, viu, vereador? Nossa cultura é de não se deitar para autoritários, tiranos para senhores de engenho”, declarou a jornalista no início de sua intervenção.
Na sequência, a apresentadora do telejornal fez um breve retrospecto da história da imigração que marcou o desenvolvimento do Rio Grande do Sul.
“Veja a ironia. O Rio Grande do Sul foi um estado colonizado por imigrantes europeus, especialmente os alemães e os italianos. Esses imigrantes não eram pessoas ricas que vieram investir no Brasil, pelo contrário. Eram pessoas fugindo de crises econômicas na Europa e que receberam inúmeros benefícios do Brasil para aqui se instalarem. Desde passagem, concessão de terras, até roupas e animais para criar. Hoje, esse vereador de um estado construído com a força de pobres imigrantes, discrimina pessoas humildes em busca de oportunidades de trabalho. Ignorando sua história, se crê superior social e economicamente”.
A jornalista prosseguiu seu discurso dando uma aula sobre xenofobia ao vereador gaúcho e citando, inclusive, o escritor mineiro Luiz Ruffato, que elencou as diferenças entre ignorância e burrice. “A xenofobia é aquele comportamento que exclui, discrimina, que difama pessoas com base na percepção de que são estrangeiras à comunidade. É a aversão, o medo, a antipatia de quem vem de fora. Muitas vezes está atrelada a uma ideia equivocada de que os estrangeiros representariam prejuízos ao sucesso econômico de um cidadão ou de um país, somados a preconceitos e estereótipos que geram esse ódio”, pontuou.
“Enquanto ignorância é a falta de conhecimento sobre determinado assunto, a burrice é a incapacidade de compreender a realidade, por teimosia ou arrogância. A burrice costuma a vigorar em locais permeados pela intolerância, por essa sensação equivocada de superioridade. Para a ignorância o antídoto é o conhecimento, já para a burrice é necessária uma forte repressão social, nesse caso com punições exemplares como, por exemplo e no mínimo, a perda de mandato deste homem que se mostra indigno de representar um povo miscigenado como o povo brasileiro”, sentenciou.
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Sobre as falas xenofóbicas e racistas do vereador gaúcho sobre baianos ao se referir aos trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão. #RespeitaABahia #XenofobiaNão pic.twitter.com/s9a3ENun4M
— Jessica Senra (@jessicasenra) March 1, 2023
*Com Forum