O governo e a caserna já sabiam que a relação não se resolveria num bate-papo.
O governo e a caserna já sabiam que a relação entre Lula e os militares não se resolveria num bate-papo. Tanto o presidente como o ministro José Múcio Monteiro (Defesa) consideram que a página do 8 de janeiro é pesada demais para ser virada de uma hora para outra.
Segundo O Globo, nos dias que antecederam a reunião com os comandantes das Forças Armadas, na sexta-feira (20), Lula dizia a auxiliares que vai esperar uma providência enérgica contra os militares que foram coniventes com o ataque à praça dos Três Poderes. A sinalização incluiria uma punição aplicada a esses indivíduos pelas próprias Forças Armadas.
Um dos focos mais vivos de tensão é a chefia do Batalhão da Guarda Presidencial, que deveria cuidar da segurança do Palácio do Planalto. Lula queria a troca do comandante da tropa, mas a caserna defendeu afastá-lo só depois de uma investigação que possa comprovar que ele teria facilitado a invasão do prédio.
O governo também exige uma mudança clara de posição dos militares diante de eventuais ameaças de protestos em frente aos quartéis. Neste ponto, há sinais de convergência: a determinação dos militares é impedir novas ocupações.
O diagnóstico dos aliados de Lula que fazem uma ponte com os militares é que Múcio conseguiu aplainar terrenos na Marinha e na Aeronáutica. O Exército, por outro lado, é visto como um problema —que ficou marcado pela leniência da força com o acampamento em frente a seu quartel-general em Brasília.
Esses mesmos operadores de Lula consideram uma ilusão acreditar numa virada de página imediata, devido ao alinhamento de parte das tropas com o bolsonarismo. O esforço, segundo eles, deve se dar para ampliar o apoio dos círculos legalistas e isolar ao máximo os radicais.
Nada disso será suficiente para acabar com a contaminação política legada por Jair Bolsonaro e seus aliados dentro das Forças. O quadro desenhado é de um trabalho de redução de danos, com concessões e punições exemplares pelo caminho.