Se burrice fosse crime previsto no Código Penal, Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, certamente pegaria uma cana longa por conta disso. Afinal, poucas pessoas politicamente visadas manteriam guardadas em seu armário evidências de que o governo do antigo chefe planejou dar um golpe de Estado.
A Polícia Federal afirma ter encontrado na casa de Torres uma minuta de um decreto para intervir no Tribunal Superior Eleitoral e melar as eleições segundo reportagem de Vinicius Sassine e Camila Mattoso, da Folha de S.Paulo. O documento teria sido produzido depois do segundo turno.
A investigação da PF precisa indicar como o documento foi feito. Surgiu a pedido de Jair ou foi coisa de alguns dos geniais assessores que o rodeavam? E se isso não fosse coisa do núcleo do governo, por que ficou guardado no armário? Ao receber uma proposta desse tipo, no mínimo, ela teria que ter sido jogada fora e, no máximo, entregue à polícia. Por que ficou guardado entre seus pertences pessoais?
A questão é que a proposta não parecer ser alienígena, mas vai ao encontro da narrativa do então presidente, que sistematicamente atacou o TSE e seus ministros por não se dobrarem às suas necessidades eleitorais.
Anderson Torres assumiu o cargo de secretário de Segurança Pública do Distrito Federal na virada do ano. Na semana passada, mudou o esquema de segurança na capital federal e viajou para os Estados Unidos.
O colunista do UOL, Tales Faria, apontou que ele teria se encontrado com Jair Bolsonaro, que está em um auto-exílio em Orlando, na Flórida, um dia antes de uma horda de golpistas bolsonaristas praticar atos terroristas em Brasília.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, apontou que as mudanças e omissões de Torres contribuíram para que a PM do DF permitisse a invasão, depredação e pilhagem do Congresso, do Palácio do Planalto e do STF. Por isso, decretou sua prisão provisória.
O mais bizarro não é constatar que o governo Bolsonaro tenha pensado em saídas para um golpe, pois ele avisou que faria isso. Mas que, mesmo após a posse de Lula, Jair, Torres e sua equipe continuem tentando provocar o caos no Brasil a fim de derrubar o Estado democrático de direito. E ainda esteja soltos.
*Sakamoto/Uol