Brasil BioFuels diz que ação foi uma reposta a um suposto ‘furto de frutos’
Um grupo de seguranças da Brasil BioFuels (BBF), que diz ser a maior produtora de óleo de dendê da América Latina, apontou armas na direção de indígenas da etnia Tembé na última terça-feira (29), no nordeste do Pará.
Um vídeo que circula nas redes sociais mostra o momento em que parte dos seguranças apontam as armas para os indígenas que residem na região dos municípios de Tomé-Açu e Acará.
De acordo com moradores da terra indígena Turé-Mariquitá, a empresa estaria tentando invadir o local, o que teria provocado um protesto do povo Tembé.
Um grupo de seguranças da Brasil BioFuels (BBF), que diz ser a maior produtora de óleo de dendê da América Latina, apontou armas na direção de indígenas da etnia Tembé na última terça-feira (29), no nordeste do Pará.
Após o episódio, a empresa divulgou uma nota negando qualquer agressão aos indígenas e justificou a ação do seguranças como uma resposta a um suposto “furto de frutos” pelos indígenas em terras da Brasil BioFuels.
A empresa também negou estar avançando sobre o território da fazenda Solimões, onde o episódio ocorreu.
“A gente sem nenhuma arma, sem nada. O pessoal da BBF machucou a gente, bateram no meu primo. Atiraram contra a gente. Isso não se faz. Como indígena, nascida e criada aqui, espero que o pessoal tenha mais respeito com os indígenas. Dessa terra eu não saio”, afirma Xandir Tembé, que presenciou a ação.
O avanço dos seguranças ao território relatado pelos indígenas ocorreu logo após o Tribunal de Justiça do Estado do Pará suspender uma operação de reintegração de posse da fazenda Campos Belo, no município de Tomé-Açú.
O pedido de reintegração foi ajuizado pela BBF em desfavor dos membros da Associação Indígena Tembé do Vale do Acará, que residem no imóvel.
Trata-se de mais um capítulo de um conflito que já se arrasta há anos. Indígenas e quilombolas da região acusam a empresa de avançar sobre territórios ocupados há séculos. A empresa nega.
Em 2021, um relatório de pesquisadores da Universidade Federal do Pará apontou que quatro cemitérios na região já haviam sido tomados por plantações de dendê sob o domínio da empresa.
O mais antigo deles, o Cemitério do Livramento, data do início do século 20. Segundo os indígenas e quilombolas, a empresa passou a proibir visitas às lápides por considerar a ação uma invasão.
Também em 2021, a empresa se viu em meio a acusações de grilagem. O Ministério Público Federal denunciou quatro pessoas que seriam responsáveis por falsificar títulos de terra para favorecer a empresa em detrimento dos indígenas, corrompendo cartorários do município de Acará.
Célia Regina Lima, desembargadora que preside o Tribunal de Justiça do Estado do Pará, revogou a propriedade de 11 fazendas da empresa.
Apenas duas delas somavam mais de 10 mil hectares, o equivalente a 63 Ibirapueras. A empresa chegou a apelar e negar as falsificações, mas a decisão foi mantida.
Quatro meses depois, em fevereiro de 2022, a empresa colocou contêineres na estrada de entrada do quilombo Nossa Senhora da Batalha, entre os municípios de Acará e Tailândia, impedindo os moradores de saírem do território para a área urbana.
Os quilombolas criaram rotas alternativas por dentro da mata para comprar comida, remédios e realizar outros afazeres do cotidiano. A empresa foi condenada pela Vara do Trabalho de Tucuruí a pagar 960 mil por danos morais coletivos.
Em nota, a Polícia Civil do Pará afirma que investiga os fatos e realiza diligências para ouvir as partes envolvidas e obter mais informações sobre o ocorrido.
“As vítimas das supostas agressões e os autores foram encaminhados à Unidade Integrada de Polícia [UIP] do distrito de Quatro Bocas para os procedimentos cabíveis”, diz a polícia.
*Com Folha