Era para ser mais um desses momentos de êxtase do bolsonarismo: bandeiras, tambores, trompetes, rojões e faixas, muitas faixas de apoio a uma intervenção militar com ele, o capitão, no comando da tropa de generais. Nas trocas frenéticas do zap de extrema-direita, havia uma expectativa real de ocupação do poder seguida de prisões de ministros do STF, de Lula, de petistas, de comunistas, de todos que ousaram desdenhar do mito. E queima de urnas eletrônicas, fantásticas fogueiras, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, cortadas por sobrevoos da Esquadrilha da Fumaça.
Tudo, no entanto, foi uma decepção. Por todo País, o que se viu foram os mesmos picadeiros a céu aberto, em frente aos quartéis, de uma triste malta de derrotados tentando fazer do 15 de Novembro um ponto de inflexão da luta bolsonarista contra o resultado das eleições que deram a Lula, do PT, a Presidência da República. Os mesmos discursos, as mesmas rezas, os mesmos surtos psicóticos, o mesmo esbanjamento feroz de intolerância e ignorância política, os mesmos memes. Mudança, mesmo, só nas faixas que pediam intervenção militar com Bolsonaro no poder. Agora, é só intervenção militar. O nome do mito vai sendo cortado, aqui e acolá, e acabam que são eles, os bolsonaristas, que vão tratando de jogar o nome de Bolsonaro na lata do lixo do esquecimento.
A bem da verdade, o presidente não colabora. Desde a derrota eleitoral do segundo turno, Bolsonaro não fala em público, se movimenta nas sombras, coberto de perebas e de maus humores, distante da primeira-dama, dos aliados, dos pastores, do gado, do País.
O apagamento de seu nome das faixas de protesto faz parte de um processo natural de acomodação da agenda da extrema-direita, que precisa passar por essa tormenta até que os generais se sensibilizem ou surja um novo nome para lhes guiar. Até lá, o presidente vai continuar se esquivando da realidade em busca de uma saída honrosa ou um plano de fuga, alheio ao abandono que, pouco a pouco, os fanáticos do cercadinho vão lhe impondo, movidos pela certeza da natureza divina da própria estupidez.
*Leandro Fortes/DCM