Diretor permitiu que bolsonarismo usasse a PRF em duas tentativas de golpe

Diretor permitiu que bolsonarismo usasse a PRF em duas tentativas de golpe

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A partir do momento em que o diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vasques, começou a agir como cabo eleitoral do presidente Jair Bolsonaro, ele deveria ter sido afastado de suas funções. Como não foi, a corporação foi usada pelo bolsonarismo em duas tentativas de golpe.

O pedido de afastamento de Vasques, apresentado pelo Ministério Público Federal, nesta quinta (15), por ele ter feito campanha para o chefe, é uma ação acertada, mas que vem com atraso. Até porque, a esta altura, Inês é morta. Assassinada duas vezes.

Na primeira vez, a PRF emperrou o transporte de eleitores mais pobres, principalmente no interior do Nordeste, onde Lula tinha maior intenção de votos, justo no domingo (30) do segundo turno. Através da força armada de uma polícia sob o seu comando, Bolsonaro operou para tentar conseguir pela sujeira o que, de fato, não foi capaz de obter nas urnas.

A Polícia Rodoviária Federal deu uma banana às ordens do Tribunal Superior Eleitoral para não dificultar o acesso de eleitores aos locais de votação e priorizou operações contra ônibus, vans, caminhões e caminhonetes.

A ação arrefeceu após intervenção do presidente do TSE, Alexandre de Moraes, que não viu prejuízo às eleições. A declaração foi apenas para por panos quentes porque ele nem teria como saber o tamanho do prejuízo, uma vez que o impacto foi muito além das pessoas que ficam sem transporte após os veículos em que estavam serem retidos. Pelos depoimentos veiculados nos dias seguintes, a ação constrangeu eleitores que ainda não haviam saído de suas casas e acabaram desistindo de votar.

Na segunda vez, a PRF fez vistas grossas aos protestos golpistas que trancaram rodovias em todo o país, deixando que os bloqueios se instalassem, mentindo que precisava de uma decisão judicial para desobstruir as vias. Vídeos em que policiais rodoviários passavam pano para golpistas viralizaram nas redes levando a engrossar os bloqueios.

Precisou a Justiça Federal emitir uma série de decisões e o próprio STF intervir com ameaça de multa contra Vasques para a cúpula da corporação se mexer de fato. Faltou vontade, sobrou seletividade. Afinal, se qualquer movimento social vestindo vermelho fechasse por 24 horas uma rodovia para protestar por fome, tomaria bala de borracha no lombo.

Um dia antes da eleição, o diretor da PRF publicou em suas redes sociais um pedido de voto em Bolsonaro. Provavelmente para dirimir dúvidas de seus subordinados a respeito de quem ajudar na reta final. Depois, com o recado dado, apagou.

Como já disse aqui, a PRF, que sempre fez um excelente trabalho em ações de combate ao trabalho escravo e ao tráfico de seres humanos, alinhou-se à ideologia extremista do presidente e passou a transmitir a imagem de uma instituição que serve para a contenção dos mais vulneráveis e para ações golpistas.

Exemplo disso foi a morte de Genivaldo de Jesus Santos, negro, desarmado, que dirigia uma motocicleta velha e vivia com uma doença mental, assassinado por policiais rodoviários federais que o trancaram em um porta-malas de uma viatura junto com uma bomba de gás em Umbaúba (SE).

Desde que assumiu, Bolsonaro atuou para sequestrar instituições de monitoramento e controle. Sem ter conseguido garantir o apoio irrestrito da Polícia Federal, apelou à sua irmã. Transformada em polícia política do presidente, a PRF teve papel fundamental, ajudando a colocar a República em estado de alerta.

O processo de desbolsonarização da corporação após Lula assumir não ocorrerá da noite para o dia. Uma decisão favorável da Justiça ao pedido do MPF, determinando o afastamento, e um relatório célere da PF, apontando ações e omissões de Vasques e da cúpula da PRF por motivação política, podem ajudar no processo de restabelecimento do lugar previsto pela Constituição à instituição.

A PRF precisa voltar a ser uma polícia do Estado e não do Jair.

*Leonardo Sakamoto/Uol

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