No final das contas, foi Bolsonaro quem se deslocou até o Supremo para se reunir com os integrantes da Corte, após um curto pronunciamento.
Segundo Malu Gaspar, O Globo, ao menos três fatores foram levados em conta por ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) ao decidirem não ir para a reunião com o presidente Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada, como o presidente pretendia.
O primeiro e mais importante: prevaleceu a opinião do ministro Alexandre de Moraes, para quem seria mais prudente aguardar o pronunciamento de Bolsonaro, o primeiro após a derrota nas urnas no último domingo (30).
No final das contas, foi Bolsonaro quem se deslocou até o Supremo para se reunir com os integrantes da Corte, após um curto pronunciamento em que afirmou que “vai cumprir a Constituição”. O recado do presidente foi bem recebido no tribunal, que considerou a sinalização importante para uma transição sem turbulência.
Moraes é presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e relator de inquéritos que incomodam o clã Bolsonaro no STF.
Um dos argumentos considerados pelos ministros, em conversas reservadas assim que o convite de Bolsonaro chegou, foi o de que não seria apropriado se reunir com o atual ocupante do Palácio do Planalto em um momento em que ainda há dezenas de estradas obstruídas em todo o país, por extremistas bolsonaristas.
“Lidar com essa gente é que nem jogar xadrez com pombo”, disse à equipe da coluna um ministro da Suprema Corte. “O pombo vai voar, derrubar as peças, defecar no tabuleiro, só quer saber de confusão.”
O vazamento do possível encontro na imprensa também incomodou integrantes da Corte Eleitoral.
A avaliação em conversas reservadas entre os ministros ao longo do dia foi a de que, antes do pronunciamento, o clima não estava bom para um encontro entre o presidente e os ministros da Suprema Corte, um dos principais alvos dos ataques de Bolsonaro ao longo dos últimos três anos.
De acordo com um ministro do STF, há uma compreensão geral de que o diálogo com o presidente neste momento tinha que ser institucional, e não “dois ou três que vão lá avulsos assim que são chamados”.
Os ministros temiam ser usados para algum ato político do presidente que visasse questionar mais uma vez a lisura do processo eleitoral ou o resultado das eleições.
Entre eles, há quem avaliava que a reunião com o Supremo fazia parte de um roteiro definido por Bolsonaro para criar fatos políticos em torno de sua derrota para Luiz Inácio Lula da Silva no último domingo.
Nas palavras de um ministro do Supremo, Bolsonaro sabe que perdeu, mas quer criar uma narrativa de injustiça ou imparcialidade por parte do “sistema” ou do “establishment” como o presidente gosta de dizer.
Bolsonaro, que ainda resiste em reconhecer a derrota publicamente, tem questionado sistematicamente a segurança do sistema eleitoral e, de acordo com relatos de ministros que estiveram com ele ontem no Palácio do Planalto, afirma se sentir “roubado” pelo TSE, que teria tomado decisões contra a sua candidatura.
Depois de ter rejeitada a denúncia de que milhares inserções de sua propaganda eleitoral haviam sido suprimidas por rádios do Nordeste, o presidente pretende reunir uma pista de incidentes registrados nas seções eleitorais durante a votação para questionar a lisura do processo – mesmo os que não têm gravidade alguma.
O presidente também já segurou a divulgação de um relatório do Ministério da Defesa sobre o processo eleitoral.