Um mutirão de apelos, feito por assessores, demoveu Bolsonaro de tentar lançar granadas, ontem, ao cair da tarde, no ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral.
Não se pode dizer que Bolsonaro estava furioso como jamais se viu – já se viu, sim, e talvez em pior estado. Ao exercício da fúria inútil sucede quase sempre o recuo com medo das consequências.
Ele morde e assopra. Late e cala. Bate na mesa e depois corre para debaixo da saia de Michelle. Justamente por apoiá-lo, os militares conhecem muito bem com quem estão lidando.
“Cavalão”, seu apelido no tempo dos quartéis, não decorre de nenhuma demonstração de força admirável que ele tenha dado. Ele só se destacou por correr rápido como um cavalo árabe.
Em Minas Gerais, Bolsonaro constatou que, ali, não vencerá as eleições, e que poderá aumentar a diferença em favor de Lula. Então, quando voava ao Rio, mandou desviar o avião para Brasília.
Chegou bufando ao Palácio da Alvorada. Quis convocar uma reunião ministerial – mas cadê os ministros? A maioria estava nos estados. Clima de fim de feira é assim. Encontrou-se com três.
E o anúncio de golpe que muitos temiam virou uma gotinha. Por sinal, golpe não se anuncia, aplica-se. Bolsonaro disse que lutará até o fim “dentro das quatro linhas da Constituição”.
É o que se espera que faça. Não gostou da decisão de Moraes de rejeitar a denúncia de que fora garfado por emissoras de rádio que não teriam veiculado seus comerciais?
Tudo bem. Vá reclamar ao Supremo Tribunal Federal. A denúncia não passou de mais uma fake news para fazer o país mudar de assunto. O assunto era Roberto Jefferson. Deixou de ser.
O assunto, hoje e amanhã, deverá ser o último debate entre Lula e Bolsonaro na noite desta sexta-feira. Se empatar ou perder o debate por poucos pontos, Lula terá ganhado.
Sabe-se lá mais o que, à base do desespero e diante da derrota que se avizinha, Bolsonaro poderá aprontar até sábado, quando as últimas pesquisas de intenção de voto serão reveladas.
Mas, no domingo, é certo o que ele planeja. Simples: os votos do Nordeste são os últimos a serem apurados. Bolsonaro deve anunciar sua vitória quando estiver à frente da apuração.
Se a apuração terminar com sua derrota, dirá que a eleição foi roubada e que reagirá “dentro das quatro linhas da Constituição”. Ou simplesmente dirá que ela foi roubada.
O resto ficará por conta dos seus seguidores mais radicais. Bolsonaro espera que eles saiam por aí botando para quebrar, e exigindo a realização de uma espécie de terceiro turno.
Não sorriam. Acreditem. Há loucos o bastante no mundo. E, sob o comando de um tresloucado, são capazes de acreditar nas maiores barbaridades, e de se empenharem em realizá-las.
Nada de pavor. Muita calma. O domingo nunca demorou tanto para chegar, mas chegará. Votai, vigiai e cautela – que, como caldo de galinha, não faz mal a ninguém.
*Noblat/Metrópoles