Peça escrita a quatro mãos acaba mal para o presidente.
Foi tudo de caso pensado: o ataque sujo, covarde, nojento do ex-deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB e aliado de Bolsonaro, à honra da ministra Cármen Lúcia; e a nova prisão dele, que a Justiça se veria forçada a decretar, como decretou.
O que não estava no script, escrito a quatro mãos por Jefferson e Bolsonaro: os tiros e as granadas lançadas pelo ex-deputado na direção dos agentes da Polícia Federal que foram prendê-lo. Jefferson, canastrão como sempre, exagerou no seu papel.
Estilhaços das granadas feriram dois agentes, um deles uma mulher, e atingiram gravemente o plano de Bolsonaro de se reeleger no próximo domingo. Concordo: com granadas ou não, é difícil que um bolsonarista radical deixe de votar em Bolsonaro.
Mas bolsonaristas moderados e com vergonha na cara, se é que existem; eleitores de Simone Tebet (MDB) e de Ciro Gomes (PDT) que migraram para Bolsonaro ainda no primeiro turno; e os chamados indecisos que cogitam votar nele podem recuar.
A pesquisa Ipec, a ser divulgada hoje, não vai registrar os efeitos do que teria sido uma farsa se não tivesse acabado como mais uma prova de que o bolsonarismo mata; ou deixa que morram os que tiverem de morrer (lembre-se da pandemia da Covid-19).
Os trackings que poluem a campanha (pesquisas diárias feitas por telefone para consumo interno de partidos, bancos e empresas) devem captar eventuais alterações no panorama; pesquisas a serem divulgadas a partir desta quarta-feira, certamente.
“As consequências vêm depois”, ensinou o jornalista gaúcho Aparício Torelly, o “Barão de Itararé”, que com esse pseudônimo tornou-se famoso no Rio de Janeiro dos anos 1950. A peça foi escrita para que suas consequências favorecessem Bolsonaro.
*Noblat/Metrópoles