Helena Chagas – Boa parte da mídia decretou um empate. Afinal, Lula nocauteou Jair Bolsonaro no primeiro bloco, quando jogou na roda o tema da pandemia, mas administrou mal seu tempo no último, quando o adversário o atacava com corrupção, e deixou o presidente dar a última palavra.
As pesquisas feitas em tempo real junto a eleitores indecisos indicaram leve vantagem de Lula – ainda que não sigam critérios científicos de amostragem. Nas duas campanhas, o desabafo, ao final, foi: “Ufa!”. Afinal, ninguém morreu. E, apesar dos tantos palpites que se seguem a um evento assim, não se sabe como cada frase, diálogo ou embate vai repercutir entre os eleitores. Quase sempre, os efeitos são residuais.
Politicamente, porém, quase tão importante quanto o que foi dito, lembrado e acusado ali, foi o que não foi dito. Embora tenham se chamado mutuamente de “mentiroso” e feito acusações graves no debate da Band deste domingo, Bolsonaro e Lula não deram golpes abaixo da linha da cintura. Pareciam até duas ladies, se comparado o tom da discussão ao dos programas do PT e do PL no horário eleitoral da TV.
Por quê? Sabe-se que a campanha Bolsonaro mandou vasculhar a vida pessoal do petista e de seus parentes, além de cada vírgula dos governos petistas, para levar acusações constrangedoras ao debate. Só que os aliados de Lula, sabendo disso, buscaram chumbo com ex-bolsonaristas, como o empresário Paulo Marinho – e tudo indica que conseguiram, acuando os bolsonaristas.
Essa situação resultou num debate belicoso, mas travado sobre temas mais do que batidos e previsíveis – pandemia e corrupção – , sem surpresas para ninguém. Em julgamento, ali, esteve a capacidade de cada um de articular seu discurso e manter a calma. Nesse quesito, Lula superou em muito o atual presidente no primeiro bloco.
No segundo, o petista rebateu as acusações de corrupção na Petrobras, mas no terceiro já aparentava certo cansaço e fez mau uso do tempo. Bolsonaro cresceu do meio para o fim do debate, mas padece de uma crônica desarticulação verbal e certa falta de noção.
Ao falar, por exemplo, de banheiros separados por gênero nas alegações finais, o presidente ficou dentro de sua bolha. Falou pouco da vida real e de temas que atingem a maioria da população e, sobretudo, os indecisos.
Bolsonaro deu sorte de ter obtido, no próprio domingo, uma decisão favorável do presidente do TSE, Alexandre de Moraes, no caso do “pintou um clima” venezuelano – que leu na primeira oportunidade possível.
Mas se, na hora, isso terá sido positivo para o presidente, o mesmo não se pode dizer no médio prazo: ao exibir ao país uma decisão do ministro favorável a ele, Bolsonaro esvaziou o próprio discurso de perseguição por parte do TSE, que certamente tentará usar para tumultuar o ambiente em caso de derrota no dia 30.