Votação reflete disputa polarizada entre presidente, que colheu bons resultados de aliados, e ex-presidente.
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) vão disputar o segundo turno da eleição presidencial, segundo projeção do Datafolha. A rodada final será no próximo dia 30.
Com 70% das urnas apuradas neste domingo (2), às 20h02, o petista estava com 45,74% dos votos válidos, contra 45,51% de Bolsonaro.
Assim, a campanha eleitoral será reordenada e, provavelmente, a agressividade vista no debate presidencial da TV Globo na última quinta (29) poderá ganhar novos patamares. A realização do segundo turno mostra que ambos os times rivais esgotaram o arsenal utilizado até aqui.
No caso de Lula, fracassou a busca pelo voto útil. Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT) tinham, até às 20h02, 4,45% dos votos válidos e 3,08%, respectivamente.
A arma utilizada pelo petista foi o discurso de que mais um mês de campanha poderia trazer riscos de violência eleitoral, quando não institucionais, exacerbados. De mais a mais, a fortaleza do ex-presidente é um voto que se mostrou impermeável a sangrias até aqui, entre os mais pobres e entre moradores do Nordeste, para ficar em grandes grupos —metade do eleitorado para o primeiro, 27% para o segundo.
Dada a animosidade entre Ciro e Lula, é provável que o pedetista repita 2018, quando outra vez caiu no primeiro turno, e não apoie ninguém. A isonomia também é esperada de Tebet, mas nada disso é central para a definição dos eleitores —1 em cada 5 apoiadores dos dois diziam que poderiam aderir ao voto útil.
Para Bolsonaro, a situação é bem mais complexa, dada a rejeição para o ex-presidente nas pesquisas.
Sua principal e mais óbvia investida foi sobre o eleitorado de menor renda e da chamada classe média baixa. Reinventou o Bolsa Família lulista como Auxílio Brasil e o reajustou para R$ 600, além de promover uma série de benesses pontuais a categorias aliadas, como os caminhoneiros. Mais importante, interveio na política de preços da Petrobras para conseguir sucessivas reduções no valor dos combustíveis.
Não deu certo entre os mais pobres, que ganham menos de 2 salários mínimos, embora tenha sido exitoso no segmento imediatamente acima. Agora, observadores se questionam se há alguma medida a ser tirada da manga, como sempre há nos gabinetes de Brasília, mas a dúvida sobre eficácia está instalada.
Na outra ponta, a da imagem, Bolsonaro manteve ao longo da disputa sua campanha contra o sistema eleitoral que o gestou, além de insistir em insinuações golpistas e num apoio que não tem no serviço ativo das Forças Armadas para gestos de ruptura. O que não quer dizer que não poderá tentar, em especial se seguir o manual de sedição deixado pelo seu ídolo, o ex-presidente americano Donald Trump.
Pelo roteiro, a contestação das urnas seria seguida por um levante bolsonarista nas ruas, cujo ensaio teria ocorrido nas manifestações do 7 de Setembro. O desenho não é de fácil execução, embora os episódios de violência ao longo da campanha mostrem que há espaço para bastante confusão.
Mas mesmo isso Bolsonaro teve de modular, sob pressão de seus aliados mais políticos. Notadamente, não fez nenhuma ameaça do tipo no debate da Globo, de olho nos eleitores mais conservadores centristas que aderiram a ele em nome do antipetismo e da antipolítica prevalentes em 2018.
Por outro lado, o figurino radical seguiu sendo usado, como forma de manter a fatia grande do eleitorado que o apoia nesta eleição, desde o começo de caráter plebiscitário —a anemia da dita terceira via de se viabilizar e o renovado fracasso de Ciro em sua quarta postulação são monumentos a essa realidade.
O problema para Bolsonaro é a distância a solidez de sua rejeição, que sempre ficou acima de 51% desde que o Datafolha começou a medir esta corrida, em maio do ano passado. Na pesquisa divulgada no sábado (1º), estava em 52%, um Everest político a ser escalado em meio a uma nevasca.
Jair Bolsonaro na campanha eleitoral de 2022.
*Com Folha