Bolsonaro na ONU: falta de carro, caminhada e perda de reunião expõem tensão entre Planalto e Itamaraty

Bolsonaro na ONU: falta de carro, caminhada e perda de reunião expõem tensão entre Planalto e Itamaraty

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Presidente precisou fazer parte do trajeto a pé até que conseguisse entrar em veículo do serviço secreto para chegar na Assembleia Geral, deixando a primeira-dama para trás.

Segundo O Globo, na manhã desta terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tinha uma agenda importante a cumprir em Nova York: um encontro privado com o Secretário Geral das Nações Unidas, António Guterres. De acordo com fontes ligadas ao Itamaraty, um dos principais temas a ser tratado na reunião seria a reforma do Conselho de Segurança com participação permanente do Brasil. Vale lembrar que o país já faz parte do conselho neste e no próximo ano, mas como membro não-permanente.

Seria uma ótima oportunidade – se o presidente tivesse chegado a tempo para o encontro.

A saída de Bolsonaro do hotel estava prevista para 8h20 (do horário local; 9h20 do horário de Brasília) para que chegasse pontualmente na reunião às 8h40. Porém, ao deixar o prédio, o presidente foi surpreendido duas vezes. Cerca de 40 apoiadores estavam especialmente eufóricos ao ver Bolsonaro – e isso fazia com que não respeitassem os limites da área imposta ao grupo pela comitiva presidencial e pelo serviço secreto. Formou-se tamanha confusão na porta do hotel que o presidente acabou decidindo voltar para o lobby.

Mas o segundo imprevisto era mais difícil de contornar. Apesar da rua atrás do hotel estar parcialmente fechada, e contar com forte presença de pessoal e de carros do serviço secreto, não havia nenhum automóvel disponível para Bolsonaro. Não só o presidente, mas também a primeira-dama, Michelle; o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP); o ex-secretário especial de Comunicação Social (Secom) e coordenador de comunicação da campanha de Bolsonaro à reeleição, Fabio Wajngarten; e o ministro das Comunicações, Fábio Faria; que faziam parte da comitiva brasileira, estavam atrasados para os compromissos na ONU.

Quando já eram quase 9 da manhã, após certo desentendimento entre membros do governo e do Itamaraty, Bolsonaro decidiu caminhar até que conseguisse encontrar algum carro do serviço secreto disponível. Além de sua comitiva e jornalistas, seus apoiadores decidiram segui-lo pelas ruas de Manhattan em busca de fotos, vídeos e alguma atenção.

Depois de pouco mais de 5 minutos de caminhada, o presidente finalmente conseguiu um carro para se locomover para a abertura da Assembleia. Porém, a primeira-dama ficou para trás. Fabio Wajngarten ficou responsável por achar um carro para que Michelle chegasse a tempo para o discurso do presidente.

Apesar da confusão, Jair Bolsonaro conseguiu discursar na hora prevista para tal – às 9h40 da manhã. Após sua fala, o presidente encontrou brevemente com o Secretário Geral apenas para o registro de uma foto em que eles apertam as mãos. Não havia tempo para agendar uma nova reunião com Guterres.

A troca de farpas entre o Itamaraty e membros do governo ficou clara ao tentarem apontar um culpado. Enquanto o Itamaraty alega que o problema com a suposta disponibilidade dos carros é competência apenas do serviço secreto, membros do governo afirmam que na viagem anterior do presidente, para o enterro de Elizabeth II em Londres, o mesmo tipo de incidente acontecia com frequência.

“Parece que o Itamaraty está decidindo simplesmente jogar contra o governo; o cerimonial do Itamaraty é deplorável”, uma das fontes concordou em declarar sob sigilo. As reclamações não param por aí, já que outros membros do governo alegam que o comitê de campanha de reeleição tenta reduzir os gastos das viagens presidenciais às vésperas das eleições, mas “os membros do MRE só estão preocupados com qual vinho branco ou tinto eles irão tomar, enquanto o presidente come pizza e pastel”.

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