Guinada da emissora rendeu aumento de audiência, verbas do governo e de empresários apoiadores do presidente.
Ex-atleta e hoje comentarista da Jovem Pan, Ana Paula Henkel descreveu certa surpresa com a recepção no ato pró-Bolsonaro em São Paulo, no 7 de Setembro. “As pessoas diziam: ‘Vocês são a nossa voz’.”
Exaltações à emissora se somaram ao coro de “Globo lixo” e aos ataques a ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e ao sistema eleitoral no evento em apoio ao candidato à reeleição.
Ser apontada nas ruas como a voz dos seguidores de Jair Bolsonaro (PL) é o ápice da guinada da Jovem Pan, de 80 anos, que a levou a um crescimento exponencial de audiência, aumento de verbas recebidas do governo federal e patrocínios de empresas comandadas por apoiadores do presidente da República.
O ano de 2014 marca o começo da mudança na rádio paulistana. Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha, assumiu o comando do grupo no lugar do pai, e a empresa estreou o Pingos nos Is.
O programa era apresentado pelo jornalista Reinaldo Azevedo, colunista da Folha. O sucesso veio rapidamente, e, em outubro de 2014, a audiência chegou a 87 mil ouvintes por minuto na Grande SP, levando o programa ao topo. O ponto de inflexão no rádio, plataforma-mãe do grupo, foi em 2015, quando passou a galgar postos na pesquisa de audiência do segmento, feita pela Kantar Ibope.
Reinaldo deixou a bancada em 2017, após o STF divulgar conversas dele com uma fonte, que era Andrea Neves, irmã do então senador Aécio Neves (PSDB) —o jornalista não era alvo das investigações, e a Constituição garante o sigilo da fonte. A grampeada era Andrea, a pedido da Procuradora-Geral da República.
Antes da saída de Reinaldo, a emissora já havia pulado do terceiro para o primeiro lugar no setor de notícias em São Paulo, posição que mantém até hoje.
Às 18h, horário nobre do rádio, na faixa ocupada pelo Pingos nos Is, a Jovem Pan ultrapassa os 100 mil ouvintes por minuto, 40% a mais do que a segunda colocada, a CBN, do Grupo Globo. São 2,8 milhões de pessoas na capital paulista por mês, também segundo a Kantar Ibope.
O crescimento levou concorrentes a realizarem pesquisas qualitativas. Resultados indicaram que a Jovem Pan tem um ouvinte fiel que não consome outras fontes. Tem a rádio como única mídia tradicional, não lê jornal, diz evitar TV e se informa majoritariamente em redes sociais e grupos de WhatsApp.
Assim como outras atrações, o Pingos nos Is passou a ser retransmitido na TV do grupo, inaugurada no segundo semestre de 2021, e no canal de YouTube, um dos mais populares entre veículos de imprensa.
Apresentada por Vitor Brown, que dita as chamadas jornalísticas, a bancada reveza comentaristas, mas mantém o núcleo formado por Augusto Nunes, Ana Paula Henkel, Guilherme Fiuza e José Maria Trindade.
Com endosso a pautas do bolsonarismo, como suspeitas sobre o sistema eleitoral e críticas à soltura de Lula e ao PT devido a acusações de corrupção, o programa lidera o crescimento no YouTube entre os canais com viés de direita e de direita radical durante o mandato de Bolsonaro.
Levantamento da Novelo Data, consultoria que monitora a plataforma, mostra que o Pingo nos Is quintuplicou a base de seguidores em dois anos. Perto de 5 milhões de inscritos, a atração está próxima de superar o canal da própria Jovem Pan, que agrega conteúdo de toda a programação. Em 2022, a audiência média do programa diário é de 809,3 mil visualizações no YouTube.
*Com Folha