Nunca um presidente se reelegeu com saldo negativo de avaliação.
Nada mal para Lula. A 19 dias das eleições, ele está 15 pontos percentuais à frente de Bolsonaro na mais nova pesquisa Ipec, ex-Ibope. Ciro Gomes (PDT) oscilou para baixo e Simone Tebet (MDB) poderá ultrapassá-lo em breve.
Uma decisão em segundo turno ainda parece ser a hipótese mais provável, mas Lula recuperou a esperança de liquidar a fatura no primeiro. Se na pesquisa Ipec da semana passada ele aparecia com 50% dos votos válidos, na mais recente está com 51%.
Flávio Bolsonaro, o senador da rachadinha, interessado no que de fato importa para sua família, começou a reclamar da falta de dinheiro para que o pai possa enfrentar dias melhores. Quer dizer: para que o pai possa gastar mais, economizando um pouco.
Há quatro anos, Bolsonaro não precisou de nada disso. Sem partido, sem tempo de propaganda eleitoral no rádio e na televisão, sem dinheiro para promover grandes comícios, viajava em aviões comerciais e era ovacionado onde chegava.
Quando ele acordou em um hospital de Juiz de Fora depois de operado da facada que levou, a primeira coisa que Bolsonaro disse foi: “A eleição está ganha, agora é só administrar”, conta Consuelo Dieguez no seu livro “O Ovo da Serpente”.
Bolsonaro tinha razão. Agora, com partido, tempo de propaganda, toda a máquina do governo a seu serviço e dinheiro a rodo, ao contrário do que Flávio diz, ele vê murcharem suas chances de se reeleger em outubro. Que coisa triste! Onde ele errou?
Se derrotado no primeiro ou no segundo turno, será o único presidente a não se reeleger. O que mais explica sua dificuldade em crescer é a desaprovação do governo. 30% dos brasileiros acham o governo Bolsonaro ótimo ou bom, e 45% ruim ou péssimo.
Nunca um presidente se reelegeu com saldo negativo de avaliação, diz Alberto Carlos Almeida, autor do livro “A mão e a luva: O que elege um presidente”. Em 1998, o governo de Fernando Henrique tinha 43% de bom e ótimo, 17% de ruim e péssimo, e ele venceu.
Em 2006, o governo Lula era considerado bom ou ótimo por 46% dos eleitores, e ruim ou péssimo por 18%, e ele também venceu. Dilma, em 2014, reelegeu-se com o mais baixo índice de aprovação – 36% de ótimo e bom, contra 24% de ruim e péssimo.
O saldo negativo de Bolsonaro é de 15 pontos percentuais. O que lhe resta fazer é tentar aumentar a rejeição a Lula, que é também bem menor que a sua rejeição. Como? Atacando-o de todas as maneiras e mandando às favas os escrúpulos que nunca teve.
Lula tem mais o que fazer. Colheu, ontem, uma adesão importante, a da ex-ministra do Meio Ambiente do seu governo Marina Silva (REDE). E guarda em segredo novas adesões, a serem reveladas mais adiante. Cada caso é um caso. E o tempo passa.
*Noblat/Metrópoles