Cenário continua favorável para o ex-presidente Lula, que tem vantagem de 15 pontos a 20 dias das eleições. Cientista político avalia que os atos no 7 de setembro, a grande aposta do presidente, não resultaram em ganho.
Para o cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) Paulo Niccoli Ramirez, o novo levantamento do Ipec (ex-Ibope), divulgado nessa segunda-feira (12), confirma que o tempo de Jair Bolsonaro (PL) à frente da Presidência da República “está acabando. É o que as pesquisas têm mostrado”, destaca Niccoli.
A afirmação foi feita em entrevista à edição desta terça (13) do Jornal Brasil Atual. O cientista político avalia que a estabilidade na corrida presidencial, apontada pelo Ipec, é uma notícia negativa para o candidato à reeleição. Mas, por outro lado, positiva para quem está ganhando, nesse caso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O estudo, encomendado pela TV Globo, mostra que o petista lidera a disputa com 46% das intenções de voto. Enquanto Bolsonaro aparece na segunda colocação, com 31%.
Má notícia para Bolsonaro
O Ipec revela ainda que Lula está empatado no limite da margem de erro – que é de dois pontos percentuais para mais ou para menos –, com a soma de todos os demais candidatos. Ele tem 46% a 44% dos votos. O resultado indica que um eventual segundo turno segue imprevisível. O que leva a dois cenários, de acordo com Niccoli. O primeiro deles, de vitória do candidato do PT ainda no primeiro turno, a partir principalmente do voto útil. Ou mesmo em segundo turno, com a derrota do atual presidente.
A própria pesquisa (Ipec) que saiu ontem já é resultado dos efeitos pós 7 de setembro. O que faz com que Bolsonaro hoje esteja a um triz de ter uma derrota humilhante ainda no primeiro turno. Lembrando que nunca no Brasil um presidente que tentou a reeleição perdeu no primeiro turno e muito menos havia ocorrido o fato de que o atual presidente não se encontrava na primeira posição nas pesquisas. Então tudo indica que o bolsonarismo, do ponto de vista democrático, está chegando ao fim”, observa o professor.
Niccoli também comenta que o mandatário não conseguiu crescer nas pesquisas mesmo após os auxílios eleitoreiros. O Ipec indica, por exemplo, um crescimento de Lula entre os eleitores de classe média. O ex-presidente subiu 6 pontos entre o eleitorado que ganha de 2 a 5 salários mínimos. Ele tem agora 40% dos votos ante 34% na pesquisa anterior, divulgada na semana passada. O petista passou à frente de Bolsonaro que caiu de 40% para 38%.
Lula cresce entre mulheres e evangélicos
Lula também segue bem à frente do atual presidente entre os mais pobres, com renda familiar de até um salário mínimo. Embora tenha oscilado um ponto em relação há uma semana, o candidato do PT aparece com 55% das intenções de voto. Mais de 30 pontos percentuais de vantagem sobre o candidato do PL, que tem 24%.
A liderança do petista também se mantém entre o eleitorado feminino. Bolsonaro conseguiu avançar dois pontos, de 26% para 28%. Mas Lula passou de 45% para 48% da preferência das mulheres, que são 53% de todo o eleitorado. O presidente, por sua vez, manteve a vantagem entre os evangélicos, subindo de 46% para 48% dos votos. Mas, mesmo assim, seu adversário também cresceu nesse segmento, passando de 27% para 31%.
“Isso já vai condicionando o cenário para um fim melancólico desse governo, que foi totalmente catastrófico. É difícil elencar pelo menos três elementos positivos desse presidente e que tenham tido eficácia para a sociedade brasileira, dos mais pobres aos mais ricos. Pelos próprios defeitos, incapacidade e inaptidões, literalmente, o bolsonarismo acaba sendo derrotado. Isso explica porque a campanha do Lula não tem tecido grandes críticas aos demais concorrentes, a não ser a Bolsonaro, porque Lula hoje basicamente navega em águas tranquilas, enquanto Bolsonaro foi vítima de seus próprios tropeços”, conclui Paulo Niccoli Ramirez.