Um dos primeiros empresários a apoiar o PT nos anos 1980 e também um dos primeiros a criticar o governo Dilma Rousseff publicamente, Lawrence Pih não vê qualquer perspectiva de uma vitória de Bolsonaro na eleição deste ano, mas diz ter preocupação com o surgimento de conflitos entre o primeiro e o segundo turno.
“Com nítida disposição autoritária, o candidato à reeleição vem insinuando que não aceitará um resultado que não lhe seja favorável. O povo e as instituições devem permanecer vigilantes e monitorar cada passo, não lhe permitindo incendiar o país”, afirma.
O comportamento de Bolsonaro no 7 de Setembro, com sua declaração de que é imbrochável, foi uma exibição de vulgaridade explícita, nas palavras de Pih. “O presidente sequestrou um evento cívico histórico, do qual a nação devia se orgulhar, transformando-o em um comício eleitoral chulo”, diz.
Ele afirma que o próximo presidente herdará um país falido, desunido e desigual e que vê uma bomba-relógio para ser explodida em 2023.
O senhor, que foi um dos primeiros empresários a apoiar o PT na década de 80 e também um dos primeiros a criticar o governo Dilma, o que está achando do momento atual? Os dois mandatos do presidente Lula trouxeram robusto crescimento econômico, redução da desigualdade, distribuição de renda, inclusão social e investimento em educação e saúde.
O Brasil era respeitado mundo afora e era visto como um dos países líderes do G-20. Hoje, o país está envolto em crise econômica, aumento da fome, discórdia social. Um governo com vocação autoritária, repleto de terraplanistas desqualificados, desprovidos de competência, de ética, de moral, de pudor e dignidade. Internacionalmente, somos vistos como pária.
Qual balanço o senhor faz do 7 de Setembro? Foi uma exibição de vulgaridade explícita. O presidente sequestrou um evento cívico histórico, do qual a nação deveria se orgulhar, transformando-o em um comício eleitoral chulo.
E, em um gesto acabadiço, colocou uma figura circense e estrambótica como braço direito. Há evidente carência cognitiva de entender o peso e a importância da instituição da Presidência. Um momento tão solene não é ocasião de fazer marketing para Viagra. O que ocorreu foi um insulto à nossa história, ao nosso país e ao nosso povo.
Na sua opinião, quais são os reais riscos na retórica de ameaças ao resultado das urnas feitas por Bolsonaro? O presidente Bolsonaro disse expressamente que a história pode se repetir e que temos pela frente uma luta do bem contra o mal. Nessas frases, está explícita a vontade dele de não aceitar a vontade do povo. Ele se equivoca e inverte o bem e o mal.
O que achou do episódio dos empresários bolsonaristas no grupo de Whatsapp que trocou mensagens a favor do golpe de estado em caso de vitória de Lula? Traz à memória a Operação Bandeirante dos anos 1960, quando empresários arquitetavam e apoiavam a implantação de uma ditadura que maculou por mais de duas décadas a história do país. São indivíduos do mesmo nível, e o peso da Constituição deve recair sobre eles.
E a reação do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, que desencadeou a operação da Polícia Federal sobre o grupo? A resposta do ministro foi à altura da proposição de insurreição. Hoje, há poucos homens públicos com essa coragem.
Quais são as suas previsões para a economia do Brasil em 2023, seja quem for o presidente? A nossa economia está em frangalhos. A inflação vai superar o teto estabelecido pelo terceiro ano consecutivo por absoluta incompetência, populismo barato, medidas eleitoreiras sem fim.
Os juros permanecem na estratosfera, o poder de compra, corroído, e as falências no setor privado aumentarão. O atual governo não executou reforma tributária ou administrativa, porém, reduziu verbas para ciência, tecnologia, educação e investimentos em infraestrutura, e foi extraordinariamente generoso com o balcão transacional do orçamento secreto.
O próximo presidente herdará um país falido e em recessão, desunido, com um abismo de desigualdade, carência na saúde, na educação e na infraestrutura. Para piorar, estamos à beira de uma recessão global. O que o governo Bolsonaro criou foi uma bomba-relógio para explodir em 2023.
A maior ameaça ao país não é pandemia, desastre climático, Amazônia em chamas, colapso econômico ou até uma guerra global. Mas o fascismo totalitário em construção. Com a história na mão, o povo saberá fazer a hora e não esperar o fascismo varrer o país.
Como avalia o resultado do Datafolha de sexta-feira? A pesquisa Datafolha mostra um quadro estável e consolidado. Com 51% de rejeição, que também permanece estável, a perspectiva de uma vitória do presidente Bolsonaro é zero