Movimentos de interlocutores incluem PEC para cargo vitalício, sondagem sobre possível anistia para eventuais crimes de Bolsonaro.
A reunião dos embaixadores estrangeiros, organizada por Jair Bolsonaro (PL), provocou uma série de reações e notas de repúdio públicas desde o dia do evento, é verdade. Mas uma reação silenciosa, provocada pelo susto e preocupação com o dayafter da eleição (e eventual derrota de Bolsonaro), fez muito mais barulho nos bastidores de Brasília nas últimas semanas.
Interlocutores diretos de Jair Bolsonaro, que despacham da Esplanada dos Ministérios, iniciaram na segunda quinzena de julho, em pleno recesso, um périplo por um “pacto”, uma “trégua” entre o Judiciário e o Executivo.
Parte da proposta, revelada pelo blog na semana passada, previa o patrocínio de uma emenda constitucional que blindasse ex-presidentes da República com cargos vitalícios – o que garantiria foro privilegiado e também uma espécie de imunidade.
Mas, na verdade, a proposta de auxiliares de Bolsonaro – relatada por diversas fontes ao blog – tratava-se de uma “pescaria”: lançar ideias a membros do Judiciário para sentir o ambiente de se aprovar uma proteção ampla e irrestrita para o presidente e aliados se ele perder a eleição.
Um dos integrantes do Judiciário procurados por bolsonaristas foi o ministro do TCU, Bruno Dantas. Com trânsito na Esplanada, do Congresso ao STF, ele foi sondado a respeito do “clima” para um eventual acordo: Alexandre de Moraes, indo para o comando do TSE, poderia enterrar o inquérito das fakenews. Em troca, Bolsonaro pararia com ataques às cortes e também abortaria a incitação ao 7 de setembro.
Ao ouvir que a proposta estava fora de cogitação, pois Moraes dificilmente aceitaria, o interlocutor de Bolsonaro passou a considerar outra hipótese: que Moraes abrisse mão da relatoria do inquérito das fakenews.
Mas o foco de preocupação de bolsonaristas não era apenas com o foro privilegiado para um eventual ex-presidente. A proposta de interlocutores de Bolsonaro previa de uma anistia para eventuais crimes a indulto concedido por um futuro presidente. “Mas quais crimes?”, perguntou o blog. “Crimes genéricos, ninguém investigaria ninguém. Como se quem ganhasse assumisse o compromisso de não investigar o outro”, diz esse magistrado.
Numa das conversas com interlocutores de Bolsonaro, um integrante do STF ouviu que o Brasil precisaria de um “pacto de Moncloa”, em referência ao pacto de governabilidade que foi costurado na Espanha de 1977.
Esse magistrado classificou ao blog como “desespero” de setores do governo por uma “trégua artificial” pois, em sua avaliação, o Planalto só está em busca de um acordo por temer a derrota do presidente para Lula – segundo a última pesquisa Datafolha, Lula tem 55% das intenções de voto contra Bolsonaro, com 35%, em um eventual 2º turno.
*Com G1