Imposições de Bolsonaro ao PL nos estados incomodam o comando do partido

Imposições de Bolsonaro ao PL nos estados incomodam o comando do partido

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A formação de palanques bolsonaristas nos estados tem incomodado lideranças do PL. Isso porque Jair Bolsonaro já deixou claro que não abre mão de candidaturas que o partido considera pouco competitivas: a do deputado federal Major Vitor Hugo, que disputará o governo de Goiás, e do ministro da Cidadania, João Roma, que se lançará ao comando do Executivo na Bahia.

Interlocutores de Valdemar Costa Neto admitem, nos bastidores, que Bolsonaro tinha a opção de se aliar ao candidato vencedor, mas preferiu apoiar esses dois aliados até o fim.

Em Goiás, Vitor Hugo, deputado de primeiro mandato, disputará contra Gustavo Mendanha, que é do Patriota, e contra o governador Ronaldo Caiado (União Brasil), que detém uma ampla rede de alianças, a máquina estadual e acesso ao maior fundo eleitoral e partidário do país.

Na Bahia a situação é semelhante: o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (União Brasil) está na frente das pesquisas. O PL preferia ter fechado uma aliança com ele, mas Bolsonaro optou por seu ministro João Roma.

Um dos principais termos do acordo para a filiação de Bolsonaro ao partido era a costura de alianças estaduais avalizadas pelo presidente. Apesar da inconformidade, deixam claro que não haverá qualquer movimento para contrariá-lo.

O problema, para os caciques, é que a imposição levará o PL a investir uma quantidade substancial de dinheiro do fundo eleitoral – calculado a partir do desempenho do partido em 2018, quando Bolsonaro estava no PSL – em disputas perdidas, além de afastar potenciais aliados.

Para os novos correligionários de Bolsonaro, a deferência do presidente a Vitor Hugo, líder do governo na Câmara desde o início da legislatura, é uma questão exclusivamente pessoal e não de mérito.

Eleito com pouco mais de 31 mil votos em 2018, o parlamentar nunca conseguiu agregar a bancada governista e é visto como um quadro que não domina as engrenagens políticas da Casa, mas sempre contou com o apoio do presidente por conta de sua “lealdade”.

“O presidente, infelizmente, não pensa ou decide conforme a melhor estratégia política. O caso de Goiás e da Bahia refletem decisões de caráter pessoal que prejudicam seu próprio projeto de reeleição”, confidenciou um alto quadro do PL à equipe da coluna.

Os líderes do PL gostariam de ter filiado Gustavo Mendanha, popular prefeito reeleito de Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana da capital, que se desincompatibilizou do cargo na semana passada para disputar o governo. Esses caciques avaliam que Mendanha, que migrou do MDB para o Patriota, representa uma séria ameaça à reeleição de Caiado.

Na Bahia, o PL filiou João Roma por determinação de Bolsonaro. Roma era filiado ao Republicanos, que decidiu embarcar na candidatura do ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil).

Sem espaço na disputa estadual, Roma recorreu a Bolsonaro, que passou a defendê-lo como um quadro estratégico para defender seu governo na Bahia, o maior colégio eleitoral do Nordeste. Mas o próprio PL avalia que as chances de Roma são mais do que remotas.

Outro candidato pelo qual o PL nutre uma certa dor de cotovelo é Ratinho Júnior (PSD), que deve se reeleger com facilidade no Paraná.

O partido conseguiu estancar ao menos uma das exigências do presidente: Bolsonaro foi demovido de bancar o nome de Gilson Machado, que foi ministro do Turismo e presidiu a Embratur, como candidato ao governo de Pernambuco. Machado deverá disputar o Senado na chapa de Anderson Ferreira (PL), prefeito de Jaboatão de Guararapes.

A mera possibilidade de Machado concorrer ao governo era vista como uma piada pelos correligionários do presidente. “O que esse cara fez para ser governador de Pernambuco? Ele só é lembrado como o sanfoneiro das lives do Bolsonaro”, afirmou um quadro do PL em condição de anonimato.

*Malu Gaspar/O Globo

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