Não é segredo para ninguém, minimamente, informado que o presidente genocida Jair Bolsonaro tem uma forte ligação emocional e política com as ideias do nazifascismo. O namoro vem de longe, e faz parte do seu DNA ideológico. É verdade que Bolsonaro é um fanfarrão, oportunista e histriônico, mas as atuais lideranças de extrema direita, em geral, carregam o mesmo perfil. Assim são Donald Trump, Victor Orbán, atual presidente húngaro, e Javier Milei, o “bolsonaro” argentino.
O alerta vale também para o grupelho pseudoliberal, Movimento Brasil Livre (MBL), uma facção juvenil que já atacou estudantes do ensino médio dentro de escolas e até exposições de arte — práticas típicas da extrema direita nazifascista. A fala do deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), coordenador da campanha do ex-juiz ladrão Sergio Moro (Podemos), no podcast Flow, que endossou a opinião do apresentador Monark, um conhecido bolsonarista, a favor da existência legal de um partido nazista, chocaram a opinião pública democrática e seus colegas parlamentares.
O demencial Monark foi demitido e Kim vai enfrentar um processo de cassação de mandato na Câmara de Deputados. Cassar o deputado é uma medida correta e necessária — a apologia ao nazismo é um crime definido pela atual Constituição do país. Apesar da patética tentativa de Moro em justificar a “gafe” do novo correligionário.
Até a reacionária emissora Jovem Pan se viu na contingência de demitir o comentarista Adrilles Jorge, militante do gabinete do ódio nazibolsonarista, que em um programa ao vivo fez a saudação nazista “sieg heil”, gesto com a palma da mão estendida que foi uma saudação oficial e obrigatória ao então líder do estado alemão, Adolf Hitler, em meados dos anos 1930 e 1940.
A chegada ao governo federal da extrema direita potencializou a prática do discurso de ódio. Os recentes episódios de propagação do nazismo nas diversas plataformas midiáticas são expressões da tentativa de naturalizar uma espécie de senso comum de tipo fascistizante e autoritário, que em nome de uma pretensa e absoluta “liberdade de expressão” faz a defesa da legalidade política e partidária para os nazistas — uma ideologia que prega a eliminação física de todo e qualquer oponente.
O presidente Bolsonaro, seus filhos, e ministros são contumazes propagadores de teses extremistas e revisionistas sobre a história do país e do mundo. Numerosos grupos de apoiadores do presidente defendem abertamente as teses revisionistas sobre o holocausto de judeus, ciganos, comunistas e homossexuais nos campos de concentração.
Neste contexto, um dado preocupante é o crescimento de grupos neonazistas em todas as regiões do país. Segundo uma reportagem veiculada no programa Fantástico da Globo, com base em estudo elaborado pela antropóloga e especialista no assunto, Adriana Dias, há pelo menos 530 núcleos organizados de neonazistas, que podem chegar a 10 mil militantes orgânicos, ativos. Isso representa um crescimento de 270,6% de janeiro de 2019 a maio de 2021, segundo a pesquisadora.
Além disso, o caldo da extrema direita é engrossado pela política liberticida do governo Bolsonaro de incentivo ao armamento individual, o que facilita a obtenção de armas e munições para as milícias e os partidos do crime. Dados do Sistema Nacional de Armas (SINARM) e do Sistema de Gerenciamento Militar de Armas (SIGMA) mostram que até abril de 2021, os CACs (Caçador, Atirador Esportivo e Colecionador) contabilizavam um total de 648.731 armas, enquanto a soma dos armamentos das Polícias Militares totalizava 583.498. Muitos CACs operam como fachadas para o recrutamento e adestramento de milicianos.
A “nova direita neofascista” é movida pelo discurso de ódio
Na última década, com o agravamento da crise mundial do capitalismo e o desgaste continuado das forças políticas tradicionais à direita e à esquerda, surgiu em escala global uma “nova extrema direita”, com um discurso de tipo nacionalista e populista, que aproveitou as facilidades de comunicação das novas mídias para ampliar o alcance da mensagem neofascista, apelando para as bandeiras antioperárias, xenofóbicas, racistas, homofóbicas e misóginas.
Apenas uma parte minoritária dessa “nova direita” utiliza a estética e os velhos símbolos nazistas, porém a prática comum da totalidade de correntes e grupos mais atuantes são marcados pela violência e campanhas de ódio, ou seja, o mesmo e antigo modo de atuação dos extremistas de direita da matriz alemã e italiana.
O avanço da extrema direita na Europa e em diversas regiões do mundo, é um fenômeno político que se consolida no bojo das dificuldades econômicas da agenda regressiva do neoliberalismo e do estrangulamento dos mecanismos de proteção do estado social.
No caso europeu, o avanço das ideias racistas, do euroceticismo (que tem apelo entre os trabalhadores) e da crise de representação das chamadas “democracias” ocidentais têm modificado o mapa político do velho continente. Do leste ao coração da Europa, crescem os partidos políticos populistas de extrema direita, com acento neofascista: na Hungria, Polônia e República Tcheca são as principais forças partidárias; na Áustria (FPÖ), Holanda (Partido para a Liberdade) Alemanha (AfD), França (Reagrupamento Nacional de Marine Le Pen e Reconquête de Erick Zemmour), Espanha (Vox), Portugal (agora com o Chega!) são forças com crescente prestígio e protagonismo eleitoral.
O fenômeno prossegue nas eleições para o Parlamento Europeu, com os partidos de extrema direita avançando em número de cadeiras e a constante tendência de queda da representação tanto da direita tradicional quanto dos sociais-democratas.
Nos Estados Unidos, diferente da experiência europeia, a extrema direita, representada pelo “trumpismo” se organiza no interior do tradicional Partido Republicano e numa constelação de grupos de supremacistas brancos, extremistas religiosos e de facções de jovens armados, como os Proud Boys, Boogaloo’s, entre outros. A amarração política desses grupos é impulsionada pelas novas plataformas de mídias e redes sociais, manejadas por um centro orientador unificado, conforme preconiza Steve Bannon.
Apesar de derrotado nas eleições presidenciais de 2020, o ex-presidente Donald Trump segue com um sólido apoio político entre amplas parcelas do eleitorado norte-americano e é um forte candidato para a Casa Branca.
A onda extremista caminha por aqui de braços dados com a violência policial, a escalada de extermínio da população negra e o armamento individual. Ou seja, o combate à difusão das ideias neonazistas deve ser encarado como parte integrante da luta política e ideológica contra o bolsonarismo e de variantes, como o lavajatismo.
As recentes manifestações públicas em mídias de ampla audiência reivindicando a liberdade para a atuação partidária de nazistas não só merecem repúdio, mas uma dura resposta política e criminal.
Portanto, a futura eleição presidencial brasileira joga uma cartada decisiva no embate entre os valores da democracia e da soberania popular contra as forças neoliberais — obscurantistas e golpistas.
*Milton Alves é ativista social. Jornalista e escritor. Autor dos livros ‘A Política Além da Notícia e a Guerra Declarada Contra Lula e o PT’ (2019), de ‘A Saída é pela Esquerda’ (2020) e ‘Lava Jato, uma conspiração contra o Brasil’ (2021) – todos pela Kotter Editorial.
*Por Esmael Morais