Quando se para e pensa como anda a disputa eleitoral, observa-se que há um jogo casado entre Bolsonaro e Moro para não dar dor de cabeça um para o outro. Ou seja, se um passa mal, o outro adoece.
Essa relação por osmose tem muitos mistérios e, provavelmente, os dois têm muita munição na agulha para que optem por costurar um pacto tácito que estabeleça limites bem claros e estreitos em ataques que um possa fazer ao outro.
É uma espécie de deixa que eu deixo, comum em briga de bêbados.
Isso está explícito para a sociedade, como também está explícito o “não vai dar em nada” quando não se escuta por todo o canto que, mais uma vez, a justiça salvou Bolsonaro.
Essa frase vale para Moro no que diz respeito à mídia. O rapaz não pode ser tocado com um dedo na gola de sua camisa, a ordem é refrescar tudo o que sai de assunto prejudicial à imagem de Moro, como? Ignorando solenemente.
Moro é uma espécie de comadre Candoca dos Marinho no sentido amplo da palavra mídia. A mesma Globo, por exemplo, que parou sua programação para dar um furo a partir de um grampo criminoso de um vazamento ainda mais criminoso contra a presidência da República ocupada por Dilma, é a mesma que fez discurso contra o site Intercept por ter vazado um balaio de conversas criminosas entre os procuradores e o dono da Lava Jato, como o próprio ex-juiz Moro se classifica, como vimos dias atrás em seu café com frango, na entrevista com Monark sobre o TCU e sua sonegação e o caso escabroso da consultoria americana Alvarez & Marsal, nem uma linha, nem uma fala nos telejornais.
Blindagem é blindagem, este é o trato.
Vez por outra, Moro até toma um pito cercado de limitações prévias de um programa de entrevistas, mas nada do que Moro fala na mídia deixa de passar pela peneira de uma edição. Tudo é filtrado.
Bolsonaro é aquilo que todos perguntam, qual a instituição de controle ele não controla? E lógico, ele escancara a fragilidade institucional desse pais e já tinha deixado claro que as instituições sempre estiveram e sempre estarão contra o povo, que é quem paga a conta, em defesa dos interesses de uma oligarquia perpetrada no Brasil desde a escravidão colonial.
Bolsonaro pode não entender nada de economia, que pode ser considerada até um grande palavrão no meio do dinheiro grosso, mas Bolsonaro entende a língua dos ricaços e como fazê-los dormir o sono dos justos com a política nefasta de Paulo Guedes que detona a renda dos trabalhadores e o desenvolvimento do próprio país e fermenta o bolo dos abutres que comandam as entranhas do Estado brasileiro.
Assim, Bolsonaro, essa espécie de FHC sem modos, pode não servir para o salão do mundo dos endinheirados, mas serve, e muito, à mão invisível do mercado que é gerida pelos mesmos especuladores milionaríssimos.
Isso revela a urgência do país trabalhar por um mínimo de democracia, porque, na verdade, a escória do dinheiro grosso comanda tanto as instituições do Estado quanto a grande mídia, fazendo da nação brasileira um mero distrito comandado pelo grande capital, nacional e internacional.