Onze observações sobre a possível chapa Lula – Alckmin. Por Walter Falceta

Onze observações sobre a possível chapa Lula – Alckmin. Por Walter Falceta

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Nos últimos dias surgiram informações que Lula estaria disposto a ter Geraldo Alckmin como seu vice. Na sexta (12), o ex-governador de SP se mostrou aberto a possibilidade de dividir palanque com o ex-presidente. E avisou que o mal a ser derrubado é Jair Bolsonaro.

O assunto tem repercutido e Walter Falceta fez uma análise sobre o tema. Ele inúmero suas observações para que o leitor pudesse refletir. Confira:

Por Walter Falceta

Onze observações sobre a possível chapa LulaAlckmin

1) Primeiramente, é preciso deixar de lado o costume fácil de etiquetar como fake news as informações que não nos interessam. Fake news são notícias falsas. Não são aqueles acontecimentos que lhe desagradam. Nomear dessa forma o que é verdadeiro constitui ato desonesto. Reflita a respeito.

2) Parte da esquerda aderiu ao negacionismo político, que se trata de rejeitar obstinadamente a realidade, fomentando teorias conspiratórias, como se a Folha de S. Paulo fosse capaz de enfeitiçar e hipnotizar Lula da Silva. Deixa de ser ingênuo.

3) Sim, ocorreram pelo menos três encontros entre os políticos citados, todos marcados pelo respeito mútuo e por certo acanhamento geral. Lula quer mais que seu interlocutor, que é favorito na disputa ao governo paulista.

4) Alckmin não se dá bem com as dorietes e com a ala suja dos tratoristas vendilhões ligados ao atual governador. Portanto, ele pode migrar ao PSD ou, quem sabe, ao PSB.

5) Não se trata de elogio a Alckmin, mas de diferenças entre os que estão do outro lado do muro. O ex-governador foi malvado com os professores, geriu mal a crise hídrica, assistiu a privatizações malandras e fez vista grossa a coisas feias que ocorreram no Metrô e no Rodoanel. Mas, mesmo assim, é, em essência, diferente do elemento João Dória.

6) Sim, há muito tempo, Lula considera que Alckmin, por natureza, seja um tucano “religioso”, que não tem asco pelo povo, que não soma no grupo da “massa cheirosa”. Lula pode estar equivocado, mas é o que considera, mesmo depois de ser hostilizado por Alckmin numa das disputas eleitorais à presidência. Lula é resiliente e aprendeu a engolir sapos, ensinado por Brizola, que teve de engoli-lo.

7) Em sua enorme sapiência, derivada da intuição e do empirismo, Lula sabe que o vermelho absoluto não ganha eleições majoritárias no Brasil. É preciso torná-lo roxo. Daí, as duas escolhas que somaram votos conservadores nas disputas presidenciais brasileiras que marcaram o início do século. Não é por gosto, mas por necessidade estratégica.

8 ) Erra quem imagina que a ideia de Lula seja abocanhar votos de Alckmin, que nacionalmente são poucos. A proposta é abrandar os corações e mentes daqueles que enxergam em Lula um “delinquente comunista”, e que ainda temem o “kit gay” e a divisão dos apartamentos da classe média com retirantes do Cariri. Sim, esses paranoicos existem. Fora da sua bolha, mas existem.

9) Se não é o melhor do mundos, é porque o melhor dos mundos não existe na política, exceto para os comandantes de governos autoritários. O mundo da política no regime democrático é o mundo dos pequenos triunfos possíveis, fatiados e graduais. Um presidente, no modelo brasileiro, só governa de fato se tiver uma base sólida de sustentação no Congresso Nacional. Lula sabe disso desde os tempos pioneiros no sindicato dos metalúrgicos. Vale a pena ler sobre a história dessa formação política que misturou paixão e pragmatismo.

10) Cabe considerar que eleições viram em 10 dias. Ou em um dia. Jânio derrotou FHC, que já sentara na cadeira de prefeito. Hillary perdeu para a máquina digital de difamação trumpista. E, antes, Al Gore sofrera um revés inimaginável diante de Bush filho em estados considerados azuis. Bolsonaro tem a máquina na mão, e cartões de pagamento que podem seduzir parte considerável do eleitorado. Portanto, a opção roxa não é traição ou ingenuidade, mas exigência das condições objetivas do embate político.

11) Lula não precisa de um vice à direita se os conservadores tramarem para derrubá-lo. Se este for o humor dos exércitos reacionários, tratarão de fazê-lo com um vice de centro ou de esquerda. Vale lembrar que a tropa das sombras derrubou o outsider Jânio e, na sequência, hostilizou o progressista moderado Jango até apeá-lo do poder. Depois disso, vivemos 21 anos de trevas.

*Por DCM

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