Allan dos Santos teve ajuda de Eduardo Bolsonaro para “pagar” aluguel de “bunker” quando se mudou para Brasília, indicam mensagens. Diálogos no WhatsApp obtidos pela CPI da Covid e compartilhados com a Polícia Federal mostram que o clã presidencial ajudava financeiramente a milícia digital controlada pelo blogueiro. Também explicitam que a relação incluía encontro na casa de Allan para discutir estratégias políticas.
A relação com Eduardo envolvia encontros frequentes nas casas de ambos, junto de momentos de lazer e descontração. Em um deles, na casa de sócio de Allan, eles celebraram um contrato sem licitação com o governo.
Em conversa com aliado do governo, o deputado Filipe Barros, ele disse estar ocupando bunker pago pelo filho do mandatário. “Já estou no bunker pago pelo Eduardo. Cadê tu? Aparece aqui. Tenho algo grandioso para te mostrar. Sobre a viagem para SP”, escreveu ele em outubro de 2019.
As suspeitas de que Eduardo bancava aluguel de Allan no Lago Sul de Brasília, área nobre, foram levantadas no mesmo ano. À época, o cantor Lobão disse que o blogueiro estava morando em “mansão” e que Eduardo estava bancando. O blogueiro nunca negou a informação.
O imóvel ficava a 12 quilômetros do Palácio do Planalto e Allan dos Santos ficou lá até agosto de 2020, quando deixou o Brasil para fugir para os Estados Unidos. Atualmente, a propriedade está disponível para locação por R$ 9 mil.
Allan fazia “reuniões quinzenais” com aliados do clã Bolsonaro
O blogueiro tinha canal direto com os filhos do presidente e fazia pedidos frequentes, inclusive marcar encontros com autoridades do governo. Em mensagem de agosto de 2019, Allan dos Santos pediu a Eduardo que marcasse um encontro com o presidente do BNDES, Gustavo Montezano. Na ocasião, o blogueiro convidou Eduardo para participar da próxima “reunião quinzenal” no bunker. “Flávio já veio aqui. Falta você”, escreveu ao deputado.
Eduardo não foi e alegou que estava em reunião com empresários da Fiesp. Allan replicou: “Daqui a quinze dias teremos outra (reunião). Fala pro Gustavo ir. Do BNDES. Se ele estiver por aqui”. Em resposta, Eduardo diz: “Me passa o dia. Que daí já bloqueio aqui na agenda”.
Os encontros ocorriam com frequência para alinhar estratégias e incluíam o que chamava de “parceiros políticos”. Os convites eram disparados para lista com 18 nomes. Entre eles estavam Flávio, Eduardo, Fabio Wajngarten, Filipe Martins, Bia Kicis, Caroline de Toni, Filipe Barros, Felipe Francischini e Luiz Philippe de Orleans e Bragança. Hélio Angotti Neto, membro do “gabinete paralelo” também era um dos convidados.
Allan ainda ajudou na conexão de Eduardo com Bruno Ayres, empresário apresentado como sócio do blogueiro. Ele é dono de casa próxima ao “bunker” e participava com frequência das reuniões dos bolsonarista e também de convescotes junto de Eduardo. Segundo as mensagens, Eduardo teve uma confraternização na residência do empresário.
A festa ocorreu em 30 de dezembro de 2018. Em fevereiro de 2021, a empresa do sócio de Allan fechou contrato de R$ 360 mil com a Presidência. A AYR prestou “serviços técnicos de manutenção” para o programa Pátria Voluntária, de Michelle Bolsonaro. O negócio foi fechado sem licitação.
Em fevereiro de 2021, a empresa também participou de licitação para prestar serviços ao BNDES, mas não conseguiu levar o contrato.
Allan consultou Olavo de Carvalho sobre “limites” de ajuda financeira que poderia receber
Relatórios da Polícia Federal indicam que o blogueiro chegou a consultar Olavo de Carvalho sobre seus negócios. Ele questionou o guru sobre os “limites” da ajuda financeira que poderia receber do governo. Em manuscrito apreendido pelos policiais, relata:
“Perguntei: Professor, qual o limite para o TERÇA LIVRE receber aporte financeiro do Governo? Olavo: NENHUM”. A conversa ocorreu em janeiro de 2019 e há outros registros da conversa que teve com Olavo. Entre elas é uma diretriz para seu trabalho: “Banir a oposição ideológica para sempre”.
A informação é da revista Crusoé.