Para quem sabe ler, pingo é letra. Para quem sabe interpretar as falas, mesmo que gabola, do agiota do BTG Pactual, André Esteves, vazadas em áudio, interpretará como o Brasil chegou aonde chegou em que na mesma São Paulo, moradores do Alto do Pinheiros, bairro de classe média alta e classe alta, têm uma expectativa de vida de 83 anos, já no bairro de periferia Cidade Tiradentes, a expectativa de vida cai para 58 anos.
Isso é explicado, grosso modo, quando o próprio agiota diz em palestra que o presidente da Câmara, Arthur Lira, o procura para fazer consultas sobre economia, o que mostra suas relações como consultor para assuntos estratégicos tanto com o presidente da Câmara, quanto com ministros do STF, além do próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Netto que o procurou para se orientar sobre taxas de juros. Ou seja, é o galinheiro telefonando para a raposa para perguntar como deve manter as galinhas seguras.
Pior, nenhuma das conversas foi ao menos aparentemente técnicas.
Mas o que causa mais estupor é que, segundo André Esteves, ele convence ministros do STF de que o Banco Central deveria ser independente, justificando que tanto os EUA quanto em diversos países europeus o BC é independente, mas não na Venezuela e na Argentina. E pergunta aos ministros, com quem vocês querem parecer, com EUA e países europeus ou com a Argentina e Venezuela?
Foi essa a garantia de um sujeito dessa estirpe, que segundo o próprio, foi esse o “argumento técnico” usado por ele para convencer os ministros do STF de que o Banco Central deveria ser independente. E ainda se gaba dizendo que ninguém nasce sabendo tudo e, para se alcançar certo grau de conhecimento, leva-se um tempo.
Isso tudo acontecendo sem que os brasileiros sequer imaginassem, uma espécie de tratado entre banqueiro privado e instituições públicas que acaba sendo bastante didático para o entendimento de como o grande capital capturou as instituições brasileiras e, em certa medida, o banqueiro, terrivelmente tucano, deixa claro que jamais o PSDB aceitou as derrotas para o PT e jamais se moveu em favor da democracia, ao contrário, desde a primeira derrota, os tucanos sonharam em golpear a democracia e, consequentemente, Lula e, depois, Dilma, o que explica a farsa do mensalão.
Usando os mesmos argumentos de qualquer agiota de esquina, Esteves atacou Dilma na base do estereótipo, porque se um sujeito desse ousasse ponderar suas visões de economia com Dilma, tomaria uma aula sermão com todos os dados técnicos e políticos que o vigarista nunca mais ia querer falar no nome dela.
Mas ninguém espera isso de um abutre que se reveste de gente para encontrar a cúpula do comando da República e, pior, virar conselheiro dessa gente, do ponto de vista econômico e político.
O que se pode afirmar é que, se isso ilegal, é absolutamente imoral.