Brasil faz diplomacia paralela com extrema-direita, Opus Dei e negacionistas

Brasil faz diplomacia paralela com extrema-direita, Opus Dei e negacionistas

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A queda de Ernesto Araújo do comando do Itamaraty não desmontou a estratégia de política externa do governo de Jair Bolsonaro de ampliar alianças com grupos ultraconservadores, principalmente na Europa.

No início de setembro, coube à Secretária Nacional da Família do ministério comandado por Damares Alves realizar uma turnê por vários países, participando de debates e reuniões com grupos religiosos. Ângela Gandra passou por países como Ucrânia, Portugal e Espanha.

Oficialmente, o Ministério da Família, Mulheres e Direitos Humanos informou à reportagem que Angela Gandra tirou férias entre os dias 2 e 12 de setembro. «Portanto, ela estava afastada das funções públicas», disse. Mas o governo não respondeu ao ser questionado sobre quem teria pago pela viagem da secretária. A pasta tampouco explicou o que foi tratado em cada uma das paradas da secretária.

O movimento ganhou notoriedade ainda quando um documentário na Netflix, The Family, revelou a dimensão do poder de seus membros e como atuam para manobrar o destino de leis e governos. Um de seus lemas é manter “uma diplomacia cristã invisível”.

Angela Gandra, em suas redes sociais, indicou que defendeu valores conservadores em suas intervenções e indicou como ouviu “de várias pessoas que encontram inspiração no Brasil”.

Nas redes sociais, a deputada ucraniana Anna Purtova agradeceu as visitas estrangeiras ao evento e qualificou o Brasil como um “parceiro estratégico” para o “sucesso da Ucrânia”.

Apesar de estar oficialmente de férias, no dia 7 de setembro, a secretária esteve na festa na embaixada do Brasil em Kiev pelo dia da Independência. Ela ainda publicou fotos com parlamentares ucranianos.

Na capital ucraniana, o evento é liderado por pessoas como Pavlo Unguryan que, quando deputado, apresentou vários projetos de lei para “banir a propaganda homossexual”. Unguryan atua em parceria com a Aliança Ucrânia pela Família e tem vínculos com a direita religiosa norte-americana, mantendo relações com Mike Pence, vice-presidente dos EUA sob o governo de Donald Trump.

Ele também mantém estreita relação com Sam Brownback, embaixador geral da iniciativa para Liberdade Religiosa Internacional, coalizão da qual o governo brasileiro faz parte desde sua criação em janeiro de 2020.

Na Espanha, encontro com magistrado da Opus Dei

Na Espanha, a secretária participou de um encontro com políticos católicos, além de discussões sobre “estado de direito”. Mas um dos encontros da brasileira foi com o membro do Tribunal Constitucional da Espanha, Andrés Ollero. Antiaborto e apontado por diferentes jornais espanhóis como um representante da Opus Dei, o magistrado votou por recursos para educação segregada.

Há dez anos, quando seu nome foi apresentado para ocupar o cargo, um vasto debate foi iniciado sobre suas declarações sobre temas sensíveis. Num deles, Ollero faz um duro ataque contra mães que abortam.

Extrema-direita alemã e teorias da conspiração

Enquanto sua secretária visitava os movimentos ultraconservadores na Europa, Damares Alves concedeu uma longa entrevista para a jornalista alemã Vicky Richter , A repórter é ligada ao Querdenken, movimento negacionista e antivacina que está inclusive na mira de inteligência alemã por ter laços com neonazistas. Ela é ainda cofundadora, com Markus Haintz, do dieBasis, um partido antivacina e negacionista da pandemia que espalha pelas redes idéias conspiratórias.

Entre os dias 6 e 9 de setembro, a jornalista foi recebida por Damares, Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro e Bia Kicis.

Na conversa, a ministra denuncia a “erotização das crianças por meio de música, da arte, do cinema, das festas populares”.

A deputada, neta de um ministro de Adolf Hitler, também argumentou que sua viagem ao Brasil tinha ocorrido durante seu período de férias.

*Jamil Chade/Uol

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