O general Walter Braga Netto, ministro da Defesa, foi convocado pela Câmara nesta terça-feira (3/08). Ele ameaçou as instituições democráticas pedindo para comunicar, a quem interessasse, que não haveria eleições em 2022, se não houvesse voto impresso e auditável –uma proposta ‘diversionista’ do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Coube à Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados aprovar hoje a convocação do militar, na volta do recesso. Os parlamentares querem explicações sobre supostas afirmações feitas a interlocutores condicionando a realização de eleições em 2022 à adoção do voto impresso.
A convocação do ministro foi pleiteada pelo deputado Rogério Correia (PT-MG).
“A ameaça vem acompanhada de diversas manifestações no mesmo sentido do presidente da República, que acusa a existência de fraudes nas eleições por meio de urnas eletrônicas, ainda que todas as eleições até então não tenham demonstrado qualquer fragilidade, fraude ou risco de comprometimento dos resultados”, disse o deputado petista.
A comissão ainda não marcou data para ouvir o ministro, mas como ele foi convocado é obrigado a comparecer.
Assunto em discussão
O voto impresso está sendo discutido na Câmara por uma comissão especial. O parecer do relator, deputado Filipe Barros (PSL-PR), apresentado à PEC 135/19 exige a adoção de um tipo de urna eletrônica que permita a impressão do registro do voto.
Esse registro será uma espécie de cédula em papel, a ser depositada em recipiente indevassável, assegurada a conferência pelo eleitor, mas sem qualquer contato manual.
Senadores da CPI da Pandemia defendem convocação de Braga Netto
O relator da CPI da Pandemia, senador Renan Calheiros (MDB-AL), defendeu que o ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, compareça à comissão. Segundo Renan, o depoimento de Braga Netto seria importante pelo papel que ele exerceu como chefe da Casa Civil “no momento mais grave da pandemia”, no final de março — quando o Brasil chegou a quase 4 mil mortos por covid-19 ao dia. Renan disse que a CPI tem o compromisso de investigar com responsabilidade e, para isso, é preciso ouvir o ministro.
“Não investigamos instituições ou pessoas, mas investigamos os fatos e apenas os fatos”, pontuou Renan.
O vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), também é favorável ao depoimento de Braga Netto. Para o senador, já existem elementos para a sua convocação. Randolfe disse que CPI ainda vai analisar o momento mais adequado para a convocação do ministro. Ele reconheceu que são graves as denúncias de que Braga Netto comandou espionagens ilegais contra senadores, mas apontou que este não é o objeto da CPI.
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) reapresentou à CPI da Pandemia um requerimento para a convocação do ministro Braga Netto. Um pedido anterior estava na pauta da reunião desta terça-feira, mas foi retirado após críticas de integrantes da comissão. Quando chefiava a Casa Civil, o general teria convocado um encontro em que se discutiu a edição de um decreto presidencial para mudar a bula da cloroquina e incluir a prescrição para a covid-19.
Renan e Randolfe também cobraram a presença do empresário Francisco Emerson Maximiano na CPI. Empresário, sócio da Precisa Medicamentos, ele ganhou no Supremo Tribunal Federal (STF) o direito de ficar calado e acabou tendo seu depoimento adiado pela CPI. Randolfe classificou a viagem de Maximiano à Índia como uma forma de obstruir as investigações da comissão.
Espionagem contra senadores
O senador Rogério Carvalho (PT-SE) acusou o ministro da Defesa, general Braga Neto, de comandar uma ação de espionagem contra ele e demais membros da CPI. “Eu quero dizer ao senhor Braga Netto, que foi o emissário do oficial do Exército para fazer espionagem contra um parlamentar, um senador da República, que eu não tenho medo”, afirmou o petista.
*Por Esmael Morais