Uma CPI para ter um resultado eficiente, ou seja, para oferecer uma resposta contundente à sociedade, ela tem que ser não só simpática à causa do povo, mas também assumir uma proporção à altura do que se pretende como resultado.
Para Bolsonaro sofrer um impeachment depende da toada do mutirão, porque ele é, antes de mais nada, um ato político, mesmo que apresente numa certa divisão características de um processo legal.
O que designa mesmo um determinado desfecho de uma CPI é o tamanho que ela ganha a partir de sua natureza. E o que não falta no catálogo imenso de crimes na CPI da Covid, é crime que sirva como prova cabal de excepcionalidade para que o povo cobre a cabeça do governante.
Para se atingir esse objetivo, a CPI tem que ter um foco bem claro que dê ganho diário de musculatura que equivalha ao peso do crime. Isso só é possível com um conjunto de movimentos que desaguam numa maior exposição daquilo que está virtualmente sendo investigado.
Por isso é fundamental a construção de uma escala de valores de cada palavra dos depoentes e sublinhar as mais determinantes que se somarão dia após dia para que o drama ganhe a mesma dimensão do palco da CPI para as ruas, melhor dizendo, do palco da CPI para as casas das pessoas.
Para isso ocorrer, tem que haver muita visibilidade e, consequentemente, promover um debate sobre a gravidade dos fatos apresentados.
Bolsonaro já percebeu, logo nos dois primeiros dias, que no palco ele perdeu muito e perderá ainda mais no decorrer da Comissão Parlamentar de Inquérito. Ele chegou a reclamar da sua tropa de choque que está imobilizada e não consegue defendê-lo e nem obstruir os trabalhos da CPI, principalmente os do relator Renan Calheiros que Bolsonaro tentou a todo custo e em vão tirar da relatoria.
Então, vendo que nesse terreno já se anuncia uma goleada história que a cada dia enumera um compêndio de crimes do governo na pandemia, a literatura do absurdo de Steve Banner tem que entrar em campo de forma sistemática para produzir falácias que passam a ser marteladas pela grande mídia e, com isso, não deixar a CPI ficar muito próxima das manchetes. Quem deve ocupar as manchetes com suas insanidades sinfônicas é Bolsonaro.
A última palavra, por mais absurda que seja, tem que ser a dele. Por isso, Carluxo, o mais aloprado soprador de sandices do pai, passa agora a prestar um serviço que transformará as declarações de Bolsonaro no fator principal de notícias da mídia.
Se puder, deverá ocupar completamente as garrafais dos jornalões e da própria análise dos articulistas políticos da grande mídia e na mídia independente, ditando ritmicamente e entoando, para ser mais direto, pautando apenas com frases de efeito, o debate nacional.
Este é o valor “científico” dos pombos que Bolsonaro solta. O que dá na caixola, ele fala, mesmo que não tenha condição de cumprir uma linha do que anuncia, pior, como usou ontem, um mesmo fato para criar dois quando pela manhã insinua que a China fez guerra bacteriológica e, mais tarde, respondendo a um simpático colaborador da farsa, afirma que hora nenhuma citou a palavra China.
E o que fez a mídia tradicional e a alternativa como a nossa aqui? Repercutimos as porcarias absolutas que ele fala para vendar os olhos da sociedade e, no dia seguinte, ele sequer toca no assunto, porque a intenção é ganhar um pedaço de terreno proporcional a uma fração.
A intenção de Bolsonaro é que suas declarações alcancem todos, mais do que os fatos graves que a CPI vem revelando sobre o governo que está sob sua batuta, o que acaba por provocar uma dispersão da CPI e muitas vezes levar à fadiga pela própria preguiça que uma CPI pode provocar na população.
É muito importante uma evolução tonal que a cada dia a imprensa aumente um tom para que mantenha o fôlego da CPI, ao mesmo tempo em que aumenta o fogo da chaleira do impeachment até que ele apite no seio da sociedade.
Amanhã, com certeza, Bolsonaro vai criar uns cinco fatos, se necessário uns dez, mas a tática dele, sobretudo nos dias de CPI, será a mesma, criar um absurdo maior que, naturalmente, levará a sociedade a discutir mais uma bravata histriônica do bufão e seus blefes, contanto que a própria CPI fique sempre em segundo plano na relação entre declarações idiotas de Bolsonaro e revelações criminosas do seu governo.
*Carlos Henrique Machado Freitas