O diário da crise brasileira está bastante aquecido. Outrora restrito ao vocabulário de alguns poucos interessados em análise política, a situação escalou de forma tal que os comuns – ou seja – o grosso da população já não esconde mais sua preocupação com o cenário de incertezas. O aumento assustador do desemprego acompanhado pelo aumento dos preços dos combustíveis e o encarecimento do custo geral de vida associados à tragédia da Pandemia do Covid-19 levou muitos brasileiros a refletirem sobre a disputa pelo poder político e as melhores alternativas de saída para uma das mais graves crises já vistas na História do Brasil.
Como pano de fundo, os grandes veículos de imprensa, ou seja, aqueles que detêm o monopólio da informação e representam os interesses do Grande Capital já preparam uma narrativa conveniente. Como sempre, a “História é feita pelos vencedores”, ou seja, escreve a História quem tem poder de fogo real e se não tomarmos cuidado a versão dos fatos sempre encobre as manobras sujas e imorais da História. Levando em consideração que infelizmente a população brasileira é facilmente manipulável, a guerra pela narrativa já está a pleno vapor no país. Se for inconveniente demais culpar apenas o regime Bolsonaro – que de fato é responsável também pela desgraça do país – a imprensa também vê na Pandemia uma oportunidade de jogar os “infortúnios da vida” para a arena do “plano etéreo”, ou seja, a Pandemia seria o grande bode expiatório do colapso brasileiro, sem depositar a responsabilidade em nenhum segmento político do país ou nenhuma política econômica suja e imoral. Assim, a imprensa encobre um pouco a barbaridade generalizada do regime Bolsonaro de quem ela própria apoiou nas Eleições de 2018 como a única possibilidade de afastar o “perigo” chamado PT de cena.
De fato, criminalizar Bolsonaro também faz parte da agenda dos neoliberais, assim é possível tirar o “corpinho fora” ao mesmo tempo em que as condições de vida da população definham assustadoramente. Entretanto, esta operação tem limites. A imprensa como representante dos interesses do Capital financeiro internacional teme que a desidratação fatal do regime Bolsonaro exponha a política econômica que eles (os neoliberais) desejam e que só é colocada em prática num regime de enfrentamento. Bolsonaro é um excelente negócio para os neoliberais. Bolsonaro significa para o Capital uma oportunidade de ouro de saquear o Brasil. É o único governo que tem a coragem de aplicar os choques ultraliberais que os banqueiros tanto desejam. Do ponto de vista dos banqueiros, não é fácil malhar este governo tão estimado por eles. Por este motivo muitos alegam que por mais crimes que Bolsonaro pratique no Palácio do Planalto, jamais enfrentará qualquer processo de Impeachment, a não ser que a coisa descontrole demais. A imprensa faz o papel de crítica ao Bolsonaro um pouco a contragosto, ou seja, ela morde e assopra.
O que poucos sabem, no entanto, é que uma parte significativa da crise econômica brasileira não começou com o regime Bolsonaro. Muito longe disso, a brutal descendente do país tem início com a Operação Lava Jato, uma operação da Polícia Federal que se tornou um tribunal de exceção com motivações Geopolíticas. Hoje já reconhecida internacionalmente como uma operação de exceção (Golpe de Estado) que usou a sedutora retórica de “combate contra a corrupção” para criminalizar empresas estatais, destruí-las e subordiná-las a interesses do Capital transnacional, a Lava Jato responde por problemas estruturais gravíssimos de nossa economia. Em nome de uma imaginária “cruzada cristã contra a corrupção”, um fetiche de longa data do povo brasileiro que não entende como a Grande Burguesia atua para manter o seu Status quo em dia, a Operação foi muito além de punir personalidades incriminadas. A Operação conseguiu completar com êxito o seu serviço de destruição de ativos econômicos do país, pois as empresas foram criminalizadas.
Quando ficou claro que a Lava Jato estava numa guerra aberta contra empresas inteiras e não elementos em específico, um sinal de alerta tocou em vários segmentos do poder judiciário brasileiro e também em segmentos do poder público. Estava em marcha uma Guerra econômica de natureza geopolítica no Brasil onde não só a Economia estava sendo alvo de um grande esquema de sabotagem com ampla participação do Departamento de Justiça dos EUA como também a política estava sendo criminalizada: a ativação do Fascismo no país. Uma boa parte dos esforços da Operação em parceria com a grande imprensa foi o de criar um clima persecutório muito emblemático e característico do Fascismo onde a opinião pública é levada a concluir que governos de centro-esquerda, lideranças populares e movimentos sociais eram os grandes responsáveis pelo mal do Universo, algo como o Nazismo fez com judeus. O bode expiatório da vez foi a esquerda, os comunistas, os defensores do “Estado inchado”. Uma parcela gigantesca da população sem o menor discernimento e conhecimento foi completamente seduzida por esta palavra de ordem contra os “Comunistas”. Assim, estava criado um clima favorável a um câmbio de regime.
A “Ponte para o Futuro”, projeto ultraliberal tornado público por Michel Temer, MDB, PSDB e afins era o manifesto do fascismo lava-jatista no plano econômico. Bolsonaro caminhou muito além, anunciou ainda na campanha eleitoral de 2018 um economista entusiasta da brutal ditadura do General Pinochet, Paulo Guedes, um chicago boy comprometido com o que há de mais imoral na História da Economia Mundial, a destruição de projetos nacionais desenvolvimentistas para beneficiar o parasitismo financeiro.
Assim que puderam, colocaram em prática todas as reformas austeras que punem severamente a população trabalhadora que foi a escolhida para pagar a crise e salvar os grandes Capitalistas do abismo. Reformas criminosas como a Reforma da Previdência, PEC dos gastos e congêneres levam a população a uma degradação das condições gerais de vida como nunca antes visto. Associado ao sucateamento do setor energético brasileiro, alvo da Operação Lava Jato, a política de preços da Petrobras coloca o consumidor brasileiro no limbo. A inflação dos preços de bens de consumo bem como a disparada do desemprego estrutural e conjuntural coloca o Brasil de joelhos. Se antes éramos um candidato a potência emergente junto dos BRICS, hoje somos um país dominado, humilhado e a caminho do cemitério, já que a Pandemia coloca diariamente vários brasileiros no caixão. Mas é muito fácil diante disso culpar apenas a Pandemia como a imprensa faz.
A Pandemia de fato prejudica a economia do Brasil mas tornou-se ainda mais mortífera em um país alvo de doenças ainda mais graves como a ignorância, a arrogância que permitiu a entrada do Parasitismo financeiro, o esquema que tem potencial de criar as mais variadas possibilidades de enganação do povo para impor o seu objetivo, destruir a Economia de um país que caminhava lentamente num rumo de desenvolvimento e que agora se torna o país que mais rápido caminha para a miséria.