Em entrevista exclusiva ao repórter Joaquim de Carvalho, da TV 247, Hermes Freitas Magnus, que era sócio da Dunel, conta como a empresa foi usada por Sérgio Moro como argumento para manter investigação no Paraná. “Foi uma operação política e seletiva”, afirma Magnus.
Em entrevista exclusiva, o empresário Hermes Freitas Magnus, personagem-chave da Lava Jato, diz que foi usado por Sergio Moro, procuradores da república e policiais federais para detonar a operação no Paraná, em 2014. “Fui usado”, afirma (assista à íntegra da entrevista ao final desta coluna).
Hermes era sócio da Dunel Indústria e Comércio, fabricante de componentes eletrônicos, empresa que, em 2008, transferiu sua sede de Santa Catarina para Londrina, no Paraná.
A transferência foi acertada na CSA Project Finance, empresa sediada em São Paulo e que, segundo a Lava Jato, era usada por Alberto Youssef para operações de lavagem de dinheiro.
Hermes conta que denunciou o caso, anonimamente, à Polícia Federal, quando descobriu que o dinheiro aportado pela CSA Finance vinha de empresas estranhas, como o Posto da Torre, em Brasília, onde funcionava um lava jato — que mais tarde batizaria a operação.
Praticamente ao mesmo tempo, entre 2008 e 2009, Hermes denunciou o caso ao Ministério Público de São Paulo, onde estava sediada a CSA Project Finance.
Na época, relata, chegou a trocar e-mails com o juiz Sergio Moro, que estranhamente parecia chefiar uma investigação em Curitiba.
O inquérito, no entanto, não avançou, embora Magnus tenha relatado que estava sofrendo ameaças e que, em razão disso, tinha se mudado para os EUA.
Ele só voltaria a ter notícias de Sergio Moro em 2014, quando a Lava Jato estourou e ele, sem saber, tinha virado personagem central da operação.
Na época, já estava morando de novo no Brasil, e soube que a Dunel tinha sido o motivo alegado por Moro para manter em Curitiba uma investigação sobre a Petrobras, cuja sede é no Rio de Janeiro, e sobre a CSA Project Finance, de São Paulo.
Mais ilegalidades de Moro
Em nova troca de e-mails com Moro, Hermes foi informado de que deporia na Justiça Federal, sem advogado.
“O senhor vai depor como vítima e testemunha, e não há necessidade de advogado”, teria dito o então juiz.
Não era papel do magistrado acertar depoimento de testemunhas nem de vítimas — isso cabe ao MP, na fase processual.
A conversa de Moro com Hermes é mais uma evidência de que o então juiz comandava a investigação, o que fere um princípio básico da direito — o magistrado deve ser imparcial.
A denúncia apresentada ao MP de São Paulo foi remetida ao STF, por envolver supostamente lavagem de dinheiro obtido ilicitamente por José Janene quando era deputado federal (até 2007).
“Diante da falta de quaisquer elementos que indiquem serem os valores movimentados pela CSA Project Finance de origem diversa à dos valores alcançados por Janene através de sua participação no ‘mensalão’, não restam outras medidas a serem tomadas por este Grupo, razão pela qual promovo o arquivamento dos autos, com a ressalva prevista no artigo 18 do Código de Processo Penal. Por fim, requeiro remessa de cópia integral do presente procedimento ao Supremo Tribunal Federal, a fim de que seja juntado ao processo do ‘mensalão’”, escreveu o promotor Gilberto Leme Marcos Garcia, do Grupo Especial de Repressão aos Delitos Econômicos, em 17 de setembro de 2009.
Como decidiria Teori Zavascki em fevereiro de 2014 e agora Edson Fachin, Moro também deveria ter se declarado sem competência jurisdicional para levar o caso adiante.
Mas ele segurou a denúncia de Hermes Magnus na gaveta e, cinco anos depois, a usou para iniciar a Lava Jato.
“Hoje não tenho dúvida de que foi uma investigação política e seletiva”, declara o empresário.
O empresário diz que, em julho de 2014, auge da Lava Jato, um depoimento seu foi vazado à revista Época, do Grupo Globo, com finalidade política.
Foi uma das primeiras vezes em que o termo Petrolão foi publicado.
Hermes vive hoje como refugiado em um país cujo nome não revela.
*Joaquim de Carvalho/247