Golpe sofisticado: a neutralização da “Esquerda” está sendo garantida com sucesso no Brasil

Golpe sofisticado: a neutralização da “Esquerda” está sendo garantida com sucesso no Brasil

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Dentre vários assuntos políticos marcantes de 2020 e dos últimos meses, um dos grandes destaques foi a jogada de xadrez que conseguiu colocar a até então oposição ao Golpe de 2016 à reboque dos próprios arquitetos da destruição do Brasil. Estivemos diante de uma manobra altamente sofisticada onde vários setores de proa da dita “esquerda brasileira” constituída na grande realidade por integrantes da pequeno burguesia imbricada ao sistema político (burocracia sindical, partidos, camarilhas e grupelhos que se seguram desesperadamente em cargos de poder de Estado) e também numerosas correntes orbitais nos mais variados campos como: meio acadêmico e a dita imprensa autointitulada “de esquerda” foram neutralizadas num rumo de unificação com o Golpe, a famigerada “Frente Amplíssima”.

Exaustos pelas sucessivas derrotas institucionais desde o Golpe de Estado de 2016, esse conjunto amorfo de representantes progressistas começaram a aderir as teses determinadas pelas próprias elites financeiras, as mesmas que costuraram e estenderam o tapete vermelho para a ascensão do Neofascismo no Brasil e no Mundo. Acreditam, numa leitura moral da política, que os próprios setores financeiros estariam dispostos a “defender” a Democracia uma vez que estariam, acreditem vocês, “arrependidos”. Esse suposto “espírito do bem” estava totalmente fora de cogitação no Brasil nos anos mais duros de perseguição política ao Partido dos Trabalhadores e de criminalização dos movimentos sociais. O que a esquerda com “criatividade” analítica ignora é que o grande Capital continua à todo vapor na rota original do Golpe de Estado, sem mudar uma linha se quer.

O grande desastre da esquerda brasileira é a insistência em tapar o sol com a peneira rejeitando categorias analíticas fundamentais como Imperialismo e luta de classes. Com uma ignorância de assustar, vários setores inseriram no meio da leitura conjuntural uma pitada de “religiosidade e moralidade”. O que não sabem é que o movimento de esfriamento do Neofascismo é uma agenda plenamente alinhada com o rumo original do Golpe de Estado e dos ataques à população. A Alta Burguesia nunca teve oposição histórica ao Fascismo, pelo contrário, é a Alta Burguesia que coordena todas as situações que permitem a ascensão e a própria queda do Fascismo pois ele é uma ferramenta poderosa de contenção das instabilidades decorrentes da sistêmica crise do Capital, mas esta contenção tem limites práticas das quais a própria Burguesia têm ciência. Portanto, a Alta Burguesia controla e cozinha a situação antes que ela crie uma crise revolucionária capaz de colocar em risco o controle dos Meios de produção e portanto do seu poder. Ao acreditarem que a Alta Burguesia estaria insatisfeita com o Neofascismo, estes analistas equivocados acham que as decisões da classe dominante seriam algo como “decisões emocionais”, como se estes passassem por “crises temporários de rancor”. Passado o rancor, acreditam eles, a Burguesia abraça os trabalhadores e vice-versa para combater os vilões fascistas sendo o fascismo dissimulado agora como uma “fatalidade” política do destino.

Do ponto de vista da esquerda, que nega estar sendo ludibriada, a formulação teórica da “Frente Amplíssima” seria algo como estratégia de acúmulo de energia para “derrotar o Golpe”. Entretanto, a manobra é realizada totalmente à reboque da Burguesia que detém o controle efetivo de todo o aparato político, midiático e econômico do país. Trata-se de uma esquerda que novamente vira às costas às demandas da população pobre e faminta nas ruas para depositar as fichas no jogo de azar chamado “Congresso Nacional”. Alegam ser impensável não unir esforços para aquilo que retoricamente justificam ser a luta do bem contra um mau maior, o Bolsonarismo.

Na grande realidade o tema passa bem distante da luta política real. Talvez os próprios defensores da tese, em grande medida, saibam disso. A tese mirabolante nada mais é do que a construção de uma ideologia forte o bastante para encobrir as verdadeiras intenções destes “combatentes” de esquerda que é precisamente a tentativa desesperada de se garantir cargos e privilégios no já ultra degradado sistema político brasileiro em meio à coleção de derrotas institucionais. Este fenômeno é muito caro e natural de toda pequeno burguesia que se preza pois ela acaba sendo vinculada quase que organicamente ao sistema de poder e, encantada pelo fetichismo exercido pelas frações de poder à que têm acesso, pouco a pouco, perde a paciência com a demora em se dar a volta por cima após derrotas políticas sucessivas como estas vistas no Brasil através do Golpe de Estado de 2016. A exaustão na espera por um “milagre” desloca o campo progressista para a órbita da Alta Burguesia na primeira oportunidade que aparece. E a Alta Burguesia sabe disso!

Temendo um descontrole do Bolsonarismo já no primeiro semestre de 2020, a imprensa monopolista ensaiou uma possível unificação em torno de um processo de Impeachment contra Bolsonaro. O ensaio tinha dois objetivos principais: o primeiro foi o de forçar o regime Bolsonaro a acelerar a agenda Ultraliberal que o próprio governo havia assinalado interesse em tocar mas que recuou momentaneamente ao perceber ser um suicídio político. Tão logo as crises e escândalos atrelados ao regime Bolsonaro vieram à tona e eis que a Alta Burguesia impôs uma agenda de ataques sistemáticos ao governo e as pastas e secretarias – também enlameadas em polêmicas e degradações passíveis de serem exploradas pela mídia hegemônica. O segundo objetivo era aferir a possibilidade de desvincular vários setores que outrora estiveram na base direta de apoio do Bolsonaro e que buscam agora desembarcar – neste sentido – o exemplo clássico é do governador de São Paulo João Dória Jr. que se elegeu na base de uma campanha eleitoral de vinculação direta ao Bolsonarismo (campanha Bolso-Dória) e que agora, diante do desastre do governo Bolsonaro, quis se desvincular para preservar sua imagem. Outro exemplo similar é o do apresentador de televisão Luciano Huck, escolhido pelo Capital financeiro como um possível funcionário exemplar na tocada do projeto Ultraliberal no país sem que essa devastação pareça um esterco realizado por um político neoliberal tradicional. A aposta é de afastar possibilidades de antipatia e desgaste com as camadas populares, alheias aos acontecimentos mas experts em entretenimento sedativo.

O terceiro movimento estratégico que colocou a própria esquerda na base de apoio dos Neoliberais se deu no segundo semestre de 2020 influenciada por fatores dentro e fora do país. A crise provocada pela Pandemia de Covid, o absurdo das teorias Negacionistas, o desgaste da imagem do Brasil em todo o Mundo, o sucesso do ultra direitista Joe Biden agora vendido como “equilibrado defensor da Democracia contra o maluco e negacionista Trump”, a explosão dos movimentos identitários e a renovação das ilusões pequeno burguesas de acesso ao poder pelas Eleições municipais no Brasil foram todos fatores preponderantes para que a estratégia de “União” e neutralização da esquerda tivessem pleno sucesso. O tiro de misericórdia que também pode ser analisado como a “cereja” do bolo, ou seja, a prova final de que a Esquerda aderiu à campanha da Alta Burguesia foi o apoio do PT e de vários setores da esquerda institucional ao candidato à presidência da Câmara dos Deputados Federais, Baleia Rossi – o grande nome à serviço de Temer e do próprio Rodrigo Maia, office-boy dos golpistas no Congresso.

Bolsonaro cedo ou tarde será descartado, a Alta Burguesia dentro e fora do país sempre soube disso e precisava encontrar as condições políticas corretas para desmanchar o monstro que ela próprio criou quando este interessava. Está se aproximando agora o tempo de descartar o lixo e unificar todos em torno do projeto do Golpe de 2016. O grande desafio era conseguir ganhar a oposição e aparentemente este objetivo foi conquistado. Contanto com um tempo razoável, ou seja, bastante margem de manobra ainda, a Burguesia dispõe de amplos recursos para forjar um pleito em 2022 que consiga aliar as variadas matizes de  esquerda e direita neoliberais lado a lado para eleger Dória, Huck ou qualquer outro elemento que possa dar sobrevida à rota estabelecida com o Golpe de Estado no Brasil. Esta é uma situação lamentável e a partir de 2021 toda a esquerda que aderir à este movimento deve ser denunciada sistematicamente.

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