Aliança promete posicionar o Brasil como líder global em inovação militar.
Imagine um país do Oriente Médio, conhecido por arranha-céus e petróleo, de repente injetando bilhões de reais na indústria de defesa do Brasil. Parece filme de espionagem, mas é a pura realidade. Os Emirados Árabes Unidos estão investindo pesado no setor militar brasileiro, com aportes que somam quase R$ 25 bilhões (US$ 5 bilhões). O movimento liderado pelo grupo estatal EDGE busca transformação tecnológica e amplificação da soberania militar dos Emirados. Mas o que atrai tanto interesse pela indústria brasileira de defesa? A resposta mistura estratégia geopolítica, tecnologia de ponta e a busca por independência na área de defesa.
Com uma história de inovações e produtos reconhecidos globalmente, como o avião Super Tucano e os blindados Cascavel e Urutu, o Brasil se consolida como um parceiro estratégico para o mundo árabe. “Nossa ideia no Brasil foi diferente de outros países. Aqui vimos empresas com grande capacidade, mas que precisavam de escala para vender internacionalmente”, explicou Rodrigo Torres, CFO do grupo Edge, à revista Forbes Brasil.
Investimento bilionário e foco em expansão
Desde a inauguração de um escritório regional em Brasília em 2023, o grupo Edge já destinou mais de 3 bilhões de reais em iniciativas brasileiras. Entre os principais alvos estão a SIATT, empresa especializada em sistemas de guiamento e controle de mísseis, e a Condor, que fabrica armas não letais. A SIATT, por exemplo, é responsável por projetos como o míssil antinavio MANSUP e o míssil de cruzeiro AV-TM 300, com alcance de até 300 km.
“O objetivo é escalonar os produtos deles [do Brasil] para vender internacionalmente. Entramos como sócios, colocamos dinheiro em Pesquisa e Desenvolvimento e vamos abrir uma nova fábrica em São Paulo. O objetivo é exportar esses produtos“, disse Torres. Essa aposta busca integrar a cadeia de suprimentos global e posicionar o Brasil como hub para a América Latina.
Uma parceria estratégica
O histórico brasileiro de excelência em defesa é um dos maiores atrativos. Na década de 1980, empresas como a Engesa exportaram blindados como o Cascavel e o Urutu para mais de 20 países, incluindo Iraque e Arábia Saudita. Mais recentemente, a Embraer destacou-se com o Super Tucano, utilizado em missões de combate por 15 nações, e o cargueiro KC-390, adotado pela OTAN como padrão de transporte médio.
A parceria entre Edge e SIATT também abrange o desenvolvimento de novas tecnologias, como sistemas anti-drones e soluções de comunicação segura na Amazônia, em colaboração com o CENSIPAM (Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia).
Benefícios para ambos os lados
Os Emirados Árabes buscam reduzir sua dependência do petróleo e diversificar sua economia, investindo em tecnologias de defesa autônomas. Já para o Brasil, os aportes significam acesso a novos mercados, criação de empregos qualificados e fortalecimento da indústria local. De acordo com o canal Militarizando, o objetivo é transformar o Brasil em um polo de inovação militar para exportação. Para isso a neutralidade geopolítica do Brasil também o torna um parceiro atrativo.
Além disso, o grupo Edge pretende explorar sinergias comerciais. “Compramos 49% da SIATT e podemos chegar a 51%. Estamos investindo em um míssil com alcance de até 200 km, que pode ser muito competitivo internacionalmente. Já na Condor, usamos seus canais para vender nossos produtos em 85 países onde ainda não atuávamos”, detalhou o CFO do grupo Edge.
Brasil como protagonista global
Com um passado de altos e baixos, a indústria de defesa brasileira mostra resiliência e capacidade de adaptação. A colaboração com os Emirados Árabes pode inaugurar uma nova era, consolidando o país como um dos principais polos mundiais de inovação militar. “O Brasil continua sendo nosso maior foco, mas também estamos entrando em mercados como Paraguai, Colômbia e Peru”, finalizou Torres.
A parceria promete grandes resultados para ambos os lados, com avanços em tecnologias como mísseis hipersônicos e sistemas espaciais. Para o Brasil, é a chance de reafirmar sua relevância no cenário global de defesa e ampliar sua influência em mercados emergentes e desenvolvidos.
Publicado originalmente pela Revista Sociedade Militar