Correspondente de Opera Mundi na capital libanesa esteve no local do ataque e registrou o resgate das vítimas; veja imagens;
Um ataque israelense à região central de Beirute hoje, 17 de novembro de 2024, deixou 14 feridos e 4 mortos, entre os quais Mohammad Afif Nabulsi, chefe de relações midiáticas do Hezbollah.
A ofensiva aérea, que atingiu o escritório da filial libanesa do Partido Baath Sírio no bairro de Ras Al Nabaa, uma área densamente povoada no centro de Beirute, não foi previamente anunciada pelas autoridades israelenses como ocorreu com outros ataques realizados no mesmo dia em outras regiões da cidade.
A reportagem de Opera Mundi chegou ao local por volta das 14h (horário local). A defesa civil estava presente e auxiliou no resgate de mortos e feridos.
Mohammad Afif Nabulsi era o principal responsável pelas relações midiáticas do Hezbollah. Além de ter sido conselheiro para assuntos de mídia do falecido secretário-geral do grupo xiita libanês, Hassan Nasrallah, Afif também foi responsável pela gestão da emissora Al-Manar do Hezbollah por vários anos.
O assassinato de Mohammad Afif representa uma perda significativa no seio da organização, já que desde a morte de Nasrallah, em setembro de 2024, Afif assumiu uma posição crucial na manutenção da moral da resistência no Líbano.
Afif circulava de forma destemida e conduzia discursos em público, não só pela natureza do seu trabalho, mas também na esperança de fortalecer a narrativa de resistência.
O ataque a Afif ocorreu em explícita violação do princípio da distinção – um dos, se não o mais importante dentro do Direito Internacional Humanitário, conjunto de regras aplicáveis a conflitos armados. O referido princípio exige que as partes beligerantes distingam, em todos os momentos, civis de combatentes, direcionando suas operações exclusivamente contra os últimos. Saber se um alvo é civil ou militar, portanto, determina a sua legitimidade em um conflito armado.
Para que Afif fosse considerado um combatente e, portanto, um alvo legítimo de Israel, seria necessário que ele estivesse participando diretamente de hostilidades contra Israel. Esse não era o caso. Como chefe da mídia do Hezbollah, ele desempenhava atividades que, embora contribuíssem para os esforços gerais de guerra do grupo – como comunicação estratégica e relações públicas –, não configuravam participação direta nas hostilidades. Sendo assim, o seu status como civil estava protegido e, portanto, um ataque direcionado a ele pode ser caracterizado como crime de guerra.
O ataque israelense que resultou na morte de Afif reflete não só uma política reiterada de Israel de desrespeito às regras do Direito Internacional Humanitário, mas também uma estratégia mais ampla de intimidação e de repressão sistemática às atividades midiáticas.
Embora o governo israelense possa tentar justificar a morte de Afif com base em seu vínculo com o Hezbollah, a mesma narrativa não pode ser usada para os outros membros da mídia alvos de ataques israelenses desde outubro de 2023, tanto no Líbano quanto na Palestina.
Em outubro de 2024, um ataque de Israel em Hasbaya, no sul do Líbano, resultou na morte de três jornalistas em uma hospedaria. Além disso, uma investigação da Reuters publicada em dezembro de 2023 revelou que uma ofensiva conduzida por tanques israelenses mataram o jornalista Issam Abdallah e feriram seis outros repórteres na fronteira entre o Líbano e Israel em outubro do mesmo ano.
Em Gaza, mais de 130 jornalistas foram mortos desde outubro de 2023. Já na Cisjordânia, a caça às atividades jornalísticas culminou no fechamento da redação da Al Jazeera em Jerusalém Oriental pelas autoridades israelenses, em maio de 2024, e na invasão da sucursal do canal catari na cidade de Ramallah, em setembro do mesmo ano.