Jair Bolsonaro (PL) não quer concorrência. As especulações em torno de possíveis candidatos da direita ao Planalto em 2026 deixam o ex-presidente visivelmente irritado, embora ele saiba das dificuldades em reverter sua inelegibilidade.
Nas entrevistas que concedeu após o segundo turno das eleições, realizado no domingo (27), Bolsonaro tentou minimizar a preocupação com eventuais sucessores. As alternativas mais lembradas são as dos governadores de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), e de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). O nome do ex-coach Pablo Marçal (PRTB) também entra no jogo de apostas.
“Já tentaram várias vezes. Não conseguiram”, declarou Bolsonaro na terça (29), ao deixar o Senado, onde teve reuniões com a oposição ao governo Lula (PT). Nas palavras do ex-presidente, a ideia de uma candidatura competitiva da direita sem ele não passa de “uma utopia”.
O recado foi enfatizado no longo depoimento de Bolsonaro à edição da revista Veja que chegou às bancas nesta sexta-feira (1). O repórter Sergio Ruiz Luz questiona qual será, em 2026, o candidato do ex-presidente, que procura “matar” qualquer aspiração:
“Falam em vários nomes, Tarcísio, Caiado, Zema… O Tarcísio é um baita gestor. Mas eu só falo depois de enterrado. Estou vivo. Com todo o respeito, chance só tenho eu, o resto não tem nome nacional. O candidato sou eu (…). Eu pretendo disputar 2026. Não tem cabimento a minha inelegibilidade (…). São injustiças, uma perseguição. O pessoal já sabe, mas preciso massificar isso entre a população. Depois, as alternativas são o Parlamento, uma ação no STF, esperar o último momento para registrar a candidatura e o TSE que decida. Não sou otimista, sou realista, estou preparado para qualquer coisa.”
Bolsonaro diz que ainda não é um morto político – “eu só falo depois de enterrado”. Por enterro, entenda-se o esgotamento de todas as possibilidades de uma candidatura sua à sucessão do presidente Lula (PT).
Mas, ainda que esteja “vivo”, o ex-presidente usa as entrevistas para “matar” aqueles que já sonham em herdar seus votos. “Estou vivo. Com todo o respeito, chance só tenho eu, o resto não tem nome nacional. O candidato sou eu.”
Ao mesmo tempo, Bolsonaro começa a deixar claro que sua prioridade eleitoral não é o PL nem a direita – mas, sim, a família. No pleito municipal deste ano, dois de seus filhos foram eleitos vereadores pelo PL: Carlos Bolsonaro no Rio de Janeiro e Jair Renan em Balneário Camboriú (SC).
Mas o irmão Renato Bolsonaro (PL) levou uma surra em Registro (SP), ao perder a eleição a prefeito para Samuel (PSD) por 55,73% a 29,82%. No total, dos 48 candidatos que usaram “Bolsonaro” no nome de urna mesmo sem parentesco com o ex-presidente, apenas três se elegeram.
Para 2026, a meta do ex-presidente – que continuará impedido de disputar a Presidência da República – é garantir a eleição de parentes para o Senado. A revista Veja lhe pergunta: “É mesmo um plano do senhor ter três integrantes da família no Senado em 2026: os filhos Flávio e Eduardo Bolsonaro, além da ex-primeira-dama Michelle?”.
O ex-presidente não esconde o intento: “O Flávio vai para a reeleição, e quem lançou o Eduardo foi o Valdemar Costa Neto, nosso presidente (do PL). A Michelle deve concorrer ao Senado pelo Distrito Federal, tem grande chance de se eleger. É o plano ideal para ela”.
É esperado que qualquer candidato à Presidência da República em 2026 faça acenos a novos aliados, em busca da ampliação de sua base de apoios. Não parece ser o caso do ex-presidente, que já ataca políticos em ascensão e diz não abrir mão de candidaturas da família. O “pacote Bolsonaro” está cada vez mais caro.
Em 2022, mesmo estando no cargo, abusando do uso da máquina pública e tramando golpes, Bolsonaro não conseguiu reeleger-se. Passados dois anos – e algumas condenações –, suas falas demonstram uma incompreensão do cenário mais desfavorável. Ao que tudo indica, o racha na direita será inevitável.