As Forças de Defesa de Israel (IDF, por sua sigla em inglês) voltaram a bombardear prédios residenciais em Beit Lahilya, no norte de Gaza, na madrugada desta quarta-feira (30/10). A região está sob cerco israelense há 26 dias e o ataque ocorreu enquanto civis tentavam resgatar soterrados.
O primeiro ataque contra a região deixou ao menos 93 pessoas mortas, sendo 25 crianças. Já o segundo, matou cerca de 19 pessoas e deixou diversos feridos em estado grave. Porém, ainda não se sabe quantas vítimas ainda podem estar soterrados.
“Meus dois filhos com suas famílias inteiras foram mortos. Minha filha também e minha outra filha com seus cinco filhos, todos mortos”, disse, aos prantos, uma mulher palestina em vídeo verificado pela emissora catari Al Jazeera. “O que eles fizeram para serem massacrados assim?”.
“Houve bombardeios de todas as direções. Passamos horas esperando a bomba que nos mataria até que o prédio vizinho foi atingido. A cena era horrível. A maioria dos que vi eram crianças. Os corpos estavam mutilados. O que mais me doeu foi ver corpos das crianças colocados na beira da estrada”, disse.
Rabie al-Shandagly, outra vítima do ataque a Beit Lahilya, fez relato similar à agência AFP. “A explosão aconteceu à noite. Quando saí, pela manhã, vi pessoas puxando corpos, membros e feridos de debaixo dos escombros. A maioria eram crianças. Tentam salvar os feridos, mas não há hospitais ou cuidados médicos”, relatou.
Hospital colapsado
Os feridos foram enviados ao Hospital Kamal Adwan, o maior do norte de Gaza e dos poucos em funcionamento na região. Na semana passada, o local foi bombardeado por um tanque israelense, depois invadido por militares que prenderam a maior parte de seus funcionários.
Com as instalações parcialmente destruídas e sem pessoal, a unidade vive uma situação precária com feridos espalhados por todo o chão do hospital.
“Estamos sem recursos, sem suprimentos e quase sem médicos porque muitos deles, incluindo cirurgiões, foram detidos”, disse o diretor do hospital, doutor Hussam Abu Safia. “O hospital e toda a vizinhança são um cenário de guerra, o sistema de saúde entrou em colapso total, precisamos de uma intervenção internacional urgente”, disse à Al Jazeera.
Cerco mortal
Beit Lahilya fica no norte de Gaza, onde cerca de 100 mil palestinos estão sitiados há 26 dias pelo Exército de Israel, que impede a entrada de suprimentos. As autoridades de saúde do enclave calculam que cerca de mil palestinos já morreram ali e centenas estejam feridos ou sob os escombros.
Segundo o Guardian, o cerco e a escalada de violência naquela área aumentam os temores palestinos de que Israel esteja implementando um plano proposto por um grupo de ex-generais que consistia em ordenar a evacuação da população civil do norte, cortar o fornecimento de ajuda e considerar qualquer um que permaneça como militante.
O recrudescimento dos ataques em Gaza ocorreu 16 dias depois de os Estados Unidos deram um “ultimato” para que Israel melhorasse a entrada de ajuda humanitária ao norte de Gaza e evitassem os ataques a civis.