“Liderar blocos de oposição sem possuir mandato exige capacidade negociadora, requer habilidade de negociação, diálogo e, mais que tudo, carisma”
As eleições municipais mostraram que Jair Bolsonaro não é um bom cabo eleitoral. Candidatos por ele abertamente apoiados nos segundo turno perderam. Aliados que apoiou veladamente já largam para 2026 descompromissados com o capitão que, ademais, deverá sofrer condenações até o fim do ano pelos crimes que cometeu – posse e venda de joias que deveriam ter sido incorporadas ao patrimônio público, falsificação de atestado de vacinação, trama de golpe de Estado -, cujos inquéritos terão seguimento pela Procuradoria Geral da República a partir de agora.
Escrevemos em julho de 2023 que Bolsonaro não lideraria coisa nenhuma no futuro político do Brasil. O quadro resultante das eleições municipais mostra que estávamos certos. Vamos repisar algumas das considerações feitas em meados do ano passado, quando parte da imprensa apontava o ex-presidente como provável líder da oposição.
Jair Bolsonaro, inelegível, não porta o condão de moldar as performances opositoras em desconstrução ao governo Lula. Para tanto, precisaria de uma vocação gregária que nunca possuiu. Como presidente, e antes como deputado, foi um desagregador, afastando aliados dia sim, outro também, levando correligionários a não apenas abandonar seu barco, mas a sair atirando contra ele, por traidor. Só a caneta presidencial sustentou asseclas em torno de seus delírios.
O acidente histórico que alçou Jair Bolsonaro ao Planalto foi confundido pela mídia com traquejo político do dito cujo. Liderar blocos de oposição sem possuir mandato exige capacidade negociadora, requer habilidade de negociação, diálogo e, mais que tudo, carisma. O suposto carisma de Bolsonaro, mito para meia dúzia de fascistoides, é às avessas: sua deficiência cognitiva e sua precariedade comunicativa influenciam, na verdade, pouca gente além dos espíritos milicianos. Em regra, afastam.
*Paulo Henrique Arantes/247