O presidente criticou a lógica de financiamento internacional que beneficia as nações ricas: “Plano Marshall às avessas”
As declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura da Cúpula do BRICS, ocorrida nesta quarta-feira (23) em Kazan, na Rússia, trouxeram à tona a importância do bloco como um ator econômico relevante no cenário global e reforçaram a necessidade de desdolarização das economias emergentes.
Lula ressaltou que o BRICS, que representa mais de 3,6 bilhões de pessoas e 36% do PIB global em paridade de poder de compra, desempenhou um papel crucial no crescimento econômico mundial nas últimas décadas. “Juntos, somos mais de 3,6 bilhões de pessoas que integram o mercado dinâmico, com elevada mobilidade social”, afirmou. Ele também destacou a riqueza natural dos países membros, que detêm 72% das pedras raras do planeta, 76% do manganês e 50% do grafite.
Contudo, Lula criticou a lógica de financiamento internacional que beneficia as nações ricas em detrimento dos países em desenvolvimento. “É um Plano Marshall às avessas, em que as economias emergentes e em desenvolvimento financiam o mundo desenvolvido”, alertou.
Durante seu discurso, o presidente brasileiro destacou que as iniciativas e instituições do BRICS rompem com essa lógica, promovendo um comércio mais equilibrado. “As exportações brasileiras para os países do BRICS cresceram 12 vezes entre 2003 e 2023. O BRICS é hoje a origem de quase um terço das importações do Brasil”, detalhou. Ele também mencionou a criação da Aliança Empresarial de Mulheres, uma rede que visa fomentar o empoderamento econômico feminino e combater desigualdades de gênero.
O Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), sob a liderança de Dilma Rousseff, foi destacado como uma alternativa às instituições tradicionais de financiamento. Com quase 100 projetos em sua carteira e investimentos que somam US$ 33 bilhões, o NBD se propõe a fortalecer as economias locais sem impor condicionais. “Em vez de oferecer programas que impõem condicionalidades, o NBD financia projetos alinhados às prioridades nacionais”, defendeu Lula.
O presidente enfatizou a urgência de discutir meios de pagamentos alternativos para transações entre os países do BRICS, afirmando que a desdolarização é essencial para uma verdadeira ordem multipolar. “Não se trata de substituir nossas moedas, mas é preciso trabalhar para que a ordem multipolar que almejamos se reflita no sistema financeiro internacional”, destacou, conclamando os líderes a não adiarem essa discussão fundamental.