Baixada a poeira do primeiro turno e o alívio dos paulistanos em afastar um risco sem precedentes à democracia na cidade de São Paulo com o não avanço de Pablo Marçal na disputa por alguns milhares de votos, é o momento de refletirmos o nível de gravidade e ameaça que o Brasil se encontra com este fenômeno bestial de enganação, criminalidade e repressão representado por Marçal.
Não estamos mais falando de um direitista outsider qualquer. O fascismo no Brasil segue solto e se manifestando em níveis mais preocupantes que o próprio Bolsonarismo que por si só representou episódio trágico na História recente do Brasil. O nível de cegueira dos brasileiros segue uma preocupação sem precedentes porque é essa sanha aloprada que coloca o país lentamente rumo a um regime abertamente ditatorial ou guerra civil (ambos cenários atraentes para forças externas que almejam enfraquecer o Brasil enquanto nação emergente).
Aqui estamos diante da livre circulação de um sociopata nas altas esferas do poder político e que até o momento não enfrenta grandes obstáculos judiciários e policiais. Com amplo apoio das Big techs e do Império neopentecostal, estamos nos aproximando de uma realidade obscura demais para ser ignorada. Não adianta agirmos como se estivéssemos diante de uma situação curiosa ou atípica qualquer, de cunho passageiro.
Não, Marçal não é um raio num céu azul assim como Bolsonaro também não é. Ambos são o resultado de um projeto de poder que há muito vem sendo costurado à medida que a governança estabelecida pela elite econômica atravessa um desgaste histórico. O “andar de cima” não consegue mais se “segurar” no topo pela via tradicional burguesa e esta busca alternativas antes que o poder político se torne o palco de uma revolução popular. O esquema tradicional de poder e dissimulação da Democracia em diversos países centrais do globo terrestre está em fase de reconstrução desde ao menos a Crise de 2008 em escala planetária e o Brasil como um dos maiores estados do Planeta é um dos centros da crise. Desde as eleições de 2014 quando Aécio Neves rompeu com a “diplomacia” usual da Direita ao não aceitar o resultado das urnas, o Brasil viu um Golpe de Estado (2016), uma fraude eleitoral em 2018, uma tentativa de novo Golpe de Estado em janeiro de 2023 e, desde então, assiste um pouco inerte o aumento gradativo da animalidade do fascismo brasileiro. Podemos dizer que o “freio” temporário imposto pela reeleição de Lula em 2022 e o desgaste do bolsonarismo gera novas válvulas de escape no horizonte de eventos da Extrema Direita e do fascismo.
Neste sentido, o que podemos concluir a partir das eleições municipais em São Paulo e a ascensão do ex-coach Pablo Marçal é de que a aposta agora é pela “bukelização” paulatina do país. Esta expressão “bukelização” ainda é pouco conhecida do grande público mas é atualmente a linha mestra da estratégia de regime de exceção financiada pela grande Burguesia no continente americano. A expressão se refere a Nayib Bukele, o controverso ditador de El Salvador desde 2019. A ditadura Bukele recebe amplo apoio da política externa estadunidense e Bukele é uma figura muito parecido com Pablo Marçal não só nas concepções ideológicas alinhadas à Extrema Direita como também nos métodos de ação advindos do sub-mundo extra-legal das redes sociais.
Assim como Marçal, Bukele é um sociopata que se especializou em toda sorte de golpes, fez fortunas com o crime organizado e seitas religiosas em seu país e hoje, de modo cínico se vende como “combatente do crime organizado” sendo ele próprio oriundo deste sub-mundo. Bukele vende assim sua imagem policialesca ao mesmo tempo que é envolvido até o pescoço em todos os tipos de esquemas criminosos. Aqui, qualquer semelhança com Pablo Marçal não é mera coincidência. Assim como Marçal, o “coach” Bukele apostou em um estilo que dialoga com a juventude sem perspectiva, refém do desemprego e da falta de oportunidades de formação educacional sólida. Esta figura emblemática e perigosa usa e abusa de sua capilaridade tanto no crime organizado quanto no próprio poder institucional do país para concentrar seus poderes, desrespeitar direitos humanos com prisões a ativistas, tortura, ataque à liberdade de imprensa e inúmeras execuções extra-judiciais.
Não é uma coincidência que em plena campanha para a Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal fez uma enigmática visita no início de Setembro a El Salvador, fato este pouco noticiado na grande imprensa. Por que El Salvador em específico? O que há em El Salvador? Há Nayib Bukele e toda sua equipe responsável pela nova modalidade de ditadura na América Latina apoiada pelos EUA. Aqui temos um risco enorme para o Brasil no próximo período. Iremos pagar para ver? Há que se denunciar estas manobras geridas de fora do país, numa verdadeira guerra geopolítica contra a soberania nacional e os direitos civis da população brasileira.