O economista analisa a política monetária brasileira e sugere mudanças profundas para combater a desigualdade e a concentração de renda.
Em entrevista concedida ao Opera Mundi, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo teceu duras críticas à atual política de juros do Brasil, afirmando que o país vive uma “guerra peculiar” entre o centro financeiro da Faria Lima, em São Paulo, e o restante da população. Durante a conversa, Belluzzo destacou o impacto negativo das elevadas taxas de juros, que colocam o Brasil como a segunda maior taxa real do mundo, superada apenas pela Rússia, mesmo sem estar envolvido em um conflito internacional.
“A gente vive uma guerra da Faria Lima contra o resto do país, contra a razoabilidade das políticas econômicas”, afirmou Belluzzo. Ele destacou que essa política monetária favorece de maneira desproporcional aqueles que já possuem grandes fortunas, agravando as desigualdades sociais e prejudicando o crescimento da economia real. Sua análise ecoa um sentimento crescente de insatisfação em diversos setores da sociedade, que criticam o Banco Central por atender principalmente aos interesses financeiros, ignorando as necessidades da maioria da população.
A economista Bianca Valoski, que também participou do debate, reforçou as críticas aos juros altos, alertando que essa política tem ampliado ainda mais a desigualdade de renda no país. “De 2005 a 2013, vimos um aumento real dos salários, mas de 2014 a 2021, houve uma reversão, e até hoje não conseguimos recuperar os patamares anteriores”, observou. Segundo Bianca, o aumento dos juros funciona como uma espécie de Robin Hood às avessas: “Estamos tirando dos pobres para dar aos ricos.”
Ao longo da entrevista, Belluzzo evocou o economista John Maynard Keynes para explicar o conceito de “formação de convenções” nas decisões econômicas. De acordo com ele, essas convenções, quando moldadas por interesses financeiros, bloqueiam o desenvolvimento de políticas mais justas e equilibradas. “Os conceitos são construídos pelas pessoas, e isso tem um peso significativo”, destacou, enfatizando a necessidade de revisar as bases teóricas que sustentam a atual política monetária do Brasil.
O economista Pedro Faria, também presente na discussão, propôs a criação de novas ferramentas para lidar com os diferentes tipos de inflação enfrentados pelo Brasil. Ele sugeriu a formação de um “Conselho Nacional de Preços”, que não se limitasse ao Banco Central, mas incluísse agências reguladoras e representantes de setores sociais, como sindicatos de trabalhadores e empresários, para criar estratégias mais amplas e eficazes no controle inflacionário.
Um dos pontos centrais da conversa foi a crítica à independência do Banco Central, que, segundo os economistas, opera de forma isolada e com uma única ferramenta — o aumento dos juros — para lidar com todos os tipos de inflação, mesmo aqueles que não respondem a essa política. “Para quem tem um martelo, tudo parece prego”, ironizou Faria, sugerindo que a atual abordagem ignora soluções alternativas para problemas complexos, como aumentos de preços derivados de fatores externos ou climáticos.
A entrevista deixou evidente a necessidade de uma reformulação na política econômica brasileira, com uma revisão do papel central que os juros ocupam e uma articulação mais ampla entre os diferentes agentes econômicos e sociais. Embora as mudanças sejam urgentes, os participantes concordaram que haverá forte resistência por parte dos setores financeiros, que, de acordo com eles, são os principais beneficiários da atual política. “Será uma batalha dura, mas necessária para construirmos um Brasil mais justo”, concluiu Belluzzo.
A proposta defendida por Belluzzo e seus colegas é de uma economia menos centrada nos interesses financeiros e mais voltada para o desenvolvimento de políticas distributivas que coloquem o bem-estar da maioria da população como prioridade. Eles acreditam que essa mudança é essencial para romper com décadas de estagnação e desigualdade. Assista: