Na capital pernambucana, Gilson Machado, que ficou conhecido por tocar sanfona nas lives semanais de Bolsonaro, registrou 9% no último Datafolha
Três candidatos que integraram o alto escalão do governo Bolsonaro enfrentam dificuldades nas pesquisas de opinião na fase final das eleições municipais do dia 6 de outubro. Alexandre Ramagem, Marcelo Queiroga e Gilson Machado, conhecido como o “ministro sanfoneiro”, apresentam baixo desempenho e não devem avançar para o segundo turno.
As pesquisas de intenção de voto indicam que Ramagem, no Rio de Janeiro, Queiroga, em João Pessoa, e Gilson Machado, no Recife, estão distantes de seus principais concorrentes. A baixa competitividade revela a dificuldade dos apadrinhados de Bolsonaro em repetir o sucesso de 2022. Naquele ano, ao menos 12 figuras de destaque do governo anterior conseguiram cargos nas eleições para o Congresso Federal e para governador, impulsionados pela onda do bolsonarismo.
Ramagem é a aposta do PL no Rio e contou com a presença de Bolsonaro em atos de sua campanha. O ex-chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) aparece em segundo lugar nas pesquisas, distante do atual prefeito Eduardo Paes (PSD) — o bolsonarista está com 17% das intenções de voto contra 59% de Paes, segundo o último Datafolha.
Em Recife e João Pessoa, o ex-ministro de Turismo e o ex-titular da Saúde estão na faixa de 10% dos votos. Na capital pernambucana, Machado, que ficou conhecido por tocar sanfona nas lives semanais de Bolsonaro, registrou 9% no último Datafolha. Em João Pessoa, Queiroga tem 11% dos votos, segundo pesquisa Quaest de 17 de setembro.
Bolsonaro fora da Presidência e sem disputar novo cargo enfraquece candidatura de bolsonaristas, afirma especialista. “Pesa a questão de que ele não está mais no poder. Quando você não exerce mais nenhum cargo, o fato de colocar um candidato não tem mais tanto efeito”, diz Leandro Consentino, cientista político e professor do Insper.
Em 2022, Bolsonaro elegeu ao menos 12 expoentes de sua antiga gestão. Entre os destaques, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que foi ministro da Infraestrutura e venceu Fernando Haddad (PT) no segundo turno da disputa pelo governo do estado de São Paulo, além de nomes como os de Damares Alves, Marcos Pontes e Hamilton Mourão para o Senado, e Ricardo Salles.
Contexto local das cidades também tiram poder de influência do ex-presidente. Para Consentino, questões mais cotidianas, como a zeladoria das cidades e nomes com mais força regional, são fatores mais determinantes para os eleitores escolherem em quem votar.
“A população eleitor considera mais a dinâmica do próprio município, com preocupações mais locais. O Rio de Janeiro é um exemplo disso. O Eduardo Paes é uma liderança forte na cidade e conseguiu formar uma coligação ampla que supera a força de Bolsonaro”, diz o cientista político, Leandro Consentino, segundo o Uol
Condenação no TSE é outro fator que põe Bolsonaro na posição de carta fora do baralho. O ex-presidente foi declarado inelegível até 2030 por convocar uma reunião com embaixadores transmitida pela TV Brasil para fazer ataques às urnas eletrônicas.
“Vemos muito mais os candidatos a prefeito associando suas imagens aos governadores”, diz pesquisador. Pedro Fassoni Arruda, cientista político e professor da PUC-SP, cita o exemplo de Ricardo Nunes (MDB). O prefeito de São Paulo tenta a reeleição e não faz parte do governo Bolsonaro, mas tem o apoio do ex-presidente e conta a presença maior de Tarcísio na campanha.
Tarcísio participou de 13 de agendas de campanha de Nunes, e Bolsonaro apareceu em vídeo em uma. Entre os compromissos que o governador foi estão caminhadas por comércios, encontros com empresários e entidades de classe e reuniões políticas. O ex-presidente, por outro lado, só participou virtualmente de uma — Bolsonaro também não gravou para o programa eleitoral de Nunes e ainda não há data para que isso ocorra.
“Se comparamos com 2022, o Bolsonaro estava muito mais engajado na própria candidatura, porque o nome dele aparecia. Isso, de alguma forma, fortaleceu o voto em dobradinha, quando o eleitor votou nele para a Presidência e em outros nomes apoiados por ele para outros cargos’, comenta Leandro Consentino, cientista político e professor do Insper.
“Nas eleições de 2022, o Bolsonaro ainda era candidato e ocorreu a simultaneidade por ele estar disputando a Presidência. Por isso, ele funcionou como cabo eleitoral, aparecia na campanha desses aliados e funcionava como um puxador de votos. O nome dele naquele momento estava em mais evidência”, afirma Pedro Fassoni Arruda, cientista político e professor da PUC-SP.