As duas revanches de Greenwald: contra o Partido Democrata e contra o Brasil

As duas revanches de Greenwald: contra o Partido Democrata e contra o Brasil

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Luis Nassif

Recorreu à mais execrável das manobras de redes sociais: apresentar, junto com os fatos, interpretações distorcidas e não contextualizados.

É inegável o conhecimento de princípios jornalísticos por Glenn Greenwald. Tornou-se Prêmio Pulitzer não pelo fato de um dossiê secreto ter caído em suas mãos, mas pela estratégia de cobertura – repetida na Vaza Jato.

Nos últimos tempos, ele perdeu um parceiro precioso – o marido David Miranda. Mais, perdeu a fé na nova imprensa progressista, depois que foi vetada uma matéria no Intercept, mostrando os negócios de Joe Biden na Ucrânia.

A partir daí, degringolou. Resolveu escolher alvos identificados com a esquerda e despejar dardos de fogo. Mais que isso, recorreu à mais execrável das manobras do jornalismo de redes sociais: apresentar, junto com os fatos, interpretações distorcidas e não contextualizados. Parece que a morte de Miranda cortou os laços de racionalidade que tinha na interpretação do Brasil contemporâneo.

Seu alvo único e predileto é o Ministro Alexandre de Moraes. Sua última criação foi declarar que, dentre todos os inimigos que enfrentou, o único que lhe causa medo é Moraes.

Onde foram os critérios jornalísticos? Em sua encarnação anterior, Glenn e David enfrentaram milícianos, o bolsonarismo.

Em janeiro de 2019, David Miranda disse ter sido ameaçado de morte.

˜Desde a primeira publicação das mensagens, no domingo (9), o deputado David diz que passou a receber ameaças de morte. Encaminhadas à Polícia Federal na terça-feira (11), os ataques, diz, também têm como alvo a sua família. Algumas com ameaças de estupro e esquartejamento.

No dia 13 de março, David já havia feito uma denúncia-crime sobre ameaças recebidas após assumir a vaga de deputado federal em substituição a Jean Wyllys. O antecessor, eleito em 2018, afirmou em entrevista à Folha que desistiu do posto por temer as constantes intimidações que sofria”.

A ameaça veio em seguida:

”Um suplente ainda mais degenerado assume em seu lugar. David Miranda se torna a bola da vez. Fumo nele logo, confrades, pra ver todas as puctas porcas do PSOJA se borrando!”, diz uma das mensagens.

Tudo isso em um ambiente que resultou no assassinato de Marielle. Mas, para Glenn, o único inimigo que lhe causa medo é Moraes. Chama-se a isso de manipulação jornalística da pior espécie.

Mais que isso, por ter estado no centro do fogo, Glenn sabia que o país enfrentava e enfrenta uma tentativa de golpe. Tenho inúmeras restrições a Alexandre Moraes, mas só um bolsonarista, um ignorante ou um desonesto intelectual não entenderia as circunstâncias que levaram aos superpoderes de Moraes.

Glenn não é bolsonarista nem ignorante. Mas, para seu público americano, é o maior divulgador das fake news sobre a ditadura do STF brasileiro. Não o incomoda estar ao lado de Elon Musk, alimentar a ultradireita americana às vésperas de uma eleição que poderá trazer Trump de volta.

No embate entre o STF e Elon Musk, não hesitou em assumir a defesa do bilionário.

Entendo que a cultura do Brasil é diferente da de outros países quanto à liberdade de expressão, que, mesmo assim, está protegida pela Constituição, e a censura, proibida. O que mais me incomoda é que tudo isso está sendo feito não pela legislação aprovada pelo Congresso, mas por um juiz, mesmo com o apoio da grande maioria do STF.

Como pode um jornalista com a reputação de Glenn ignorar a grande disputa mundial entre big techs e estados nacionais? Apenas uma coisa explica: a necessidade de encontrar outros palanques depois que foi injustamente afastado do Th Intercept.

Viúvo, Glenn quer apenas suas duas revanches: uma contra o Partido Democrata; outra contra o Brasil, onde encontrou e depois perdeu o companheiro de uma vida curta.

*GGN

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