Lula diz que empresários brasileiros não têm ‘inteligência suficiente’ para entender importância de investir em cultura

Lula diz que empresários brasileiros não têm ‘inteligência suficiente’ para entender importância de investir em cultura

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A democracia é a única forma de a cultura não ser enxergada como um gasto

Em evento de reinauguração do Armazém da Utopia, na zona portuária do Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que empresários brasileiros não “têm inteligência” para entender a importância de se investir em cultura.

— Eu acho que, se o sistema financeiro soubesse disso (retorno do investimento em cultura), ele baixava os juros para não receber as dívidas e aplicava em cultura. Eu acho que os empresários brasileiros ainda não conquistaram a inteligência suficiente para saber que o investimento na cultura não só traz retorno financeiro, mas também político, ao provocar a evolução da sociedade — disse Lula na noite desta quinta-feira.

Na cerimônia, o presidente também afirmou que a democracia é a única forma de se criar condições da cultura não ser enxergada como um gasto.

— Muitos presidentes não gostam de cultura, até podem ir a Paris ver uma peça, mas não gostam de conversar com artista, porque artista é chato ideologicamente, está sempre cobrando. A cultura é o jeito da gente contrariar o que é o pensamento dominante de uma sociedade, propondo coisas novas — complementou o presidente.

Construído em 1910, o novo armazém se transformará em um porto aberto para coletivos artísticos de trabalho continuado do Brasil, da América Latina, da África e de todo o mundo. Com investimento total de R$ 36 milhões, sendo R$ 12 milhões do BNDES, a restauração do armazém teve duração de um ano.

Críticas ao Congresso
Mais cedo, Lula aproveitou a cerimônia de retorno do manto Tupinambá ao Brasil para criticar o Congresso pela derrubada de seu veto sobre o Marco Temporal. No fim do ano passado, em derrota para o governo, os parlamentares devolveram validade a um trecho de projeto de lei que define que somente Terra Indígenas já ocupadas na época da promulgação da Constituição de 1988 podem ser demarcadas.

Ao discursar durante o evento na Quinta da Boa Vista, na Zona Norte da capital fluminense, Lula frisou que “fez questão de vetar esse atentado aos povos indígenas”. O petista afirmou ainda que “imaginou que o Congresso não teria coragem de derrubar” sua decisão.

— Da mesma forma que vocês, eu também sou contra a tese do Marco Temporal. Fiz questão de vetar esse atentado aos povos indígenas. Mas o Congresso Nacional derrubou o meu veto. Às vezes as coisas são mais fáceis de falar do que fazer. Olhem a dificuldade de eleger um indígena deputado. Quando eu vetei o Marco Temporal, eu imaginei que o Congresso não teria coragem de derrubar o meu veto, e ele teve. A maioria dos congressistas não tem compromisso com os povos indígenas. O compromisso deles é com as grandes fazendas — pontuou Lula.

Mais à frente, porém, o presidente defendeu que é preciso “cumprir a Constituição e a regra do jogo”, mas negou que exista “subserviência para ficar no poder”. Ele lembrou que o governo não conta com maioria no Congresso e que, por isso, deve-se “conversar com quem não gosta de mim”.

— Aqui não tem subserviência para ficar no poder. O que se tem é inteligência política. Tenho um partido com 70 deputados em 513. Tenho nove senadores em 81. Para aprovar as coisas, eu sou obrigado a conversar com quem não gosta de mim. Se tem uma coisa que tenho muito orgulho (é isso). O presidente não pode só fazer discurso. Tem que cumprir a Constituição e a regra do jogo. Tem que respeitar as decisões do Congresso e da Justiça, e ao mesmo tempo preservar e luta — disse.

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