A concessão ocorre no momento em que Pequim pressiona por um acordo com Bruxelas antes que as taxas propostas entrem em vigor.
As tarifas punitivas da União Europeia sobre veículos elétricos fabricados na China serão reduzidas após consultas com as empresas afetadas, segundo fontes familiarizadas com o assunto.
A Tesla será novamente a grande beneficiada, tendo sua tarifa proposta reduzida pela segunda vez, de 9% para 7,8%. As empresas chinesas SAIC e Geely terão suas tarifas reduzidas de 36,3% para 35,3% e de 19,3% para 18,8%, respectivamente.
Essas tarifas serão aplicadas além da taxa base de 10% que a UE impõe a todas as importações de veículos elétricos. A notícia foi divulgada inicialmente pela MLex, um serviço de notícias regulatórias.
Autoridades do governo chinês estão correndo para fechar um acordo com a Comissão Europeia para encerrar a disputa antes que os 27 estados-membros da UE realizem uma votação, prevista para este mês, que pode transformar as tarifas em lei por um período de cinco anos.
Durante a votação, 15 dos 27 estados-membros, representando 65% da população do bloco, precisariam se opor às tarifas para impedir sua implementação.
Na segunda-feira, o vice-ministro do comércio Li Fei se reuniu com altos funcionários da UE em Bruxelas, antes de um encontro esperado para a próxima semana entre o Ministro do Comércio Wang Wentao e o chefe de comércio da UE, Valdis Dombrovskis.
“O caso de subsídio anti-dumping de veículos elétricos é complexo e tem um impacto amplo. É desafiador para a China e a UE chegarem a um acordo por meio de consultas”, disse o Ministério do Comércio da China na terça-feira.
O ministério pediu à UE que “demonstre sinceridade” e afirmou que as duas partes podem resolver suas preocupações mútuas, acrescentando: “A China está disposta a continuar trabalhando em estreita colaboração com a UE para alcançar uma solução que esteja no interesse comum de ambas as partes e em conformidade com as regras da OMC o mais rápido possível.”
Embora Bruxelas esteja disposta a negociar, há ceticismo sobre a possibilidade de chegar a um grande acordo: qualquer proposta chinesa precisaria ter o mesmo efeito das tarifas anti-subsídio, que serão aplicadas até 31 de outubro no mais tardar.
A UE afirma que os subsídios chineses estão permitindo que empresas exportem seus carros para a Europa com desconto, tornando os modelos fabricados localmente menos competitivos. Pequim nega essa alegação, afirmando que o sucesso do setor é resultado de planejamento e inovação.
Mesmo a tarifa mais alta da UE – 35,3% mais a taxa base de 10% para a SAIC – é baixa em comparação com outros mercados ocidentais, incluindo os Estados Unidos e o Canadá, que aplicaram tarifas de 100% sobre as importações.
Em um relatório publicado na segunda-feira, o ex-primeiro-ministro italiano Mario Draghi afirmou que tarifas mais altas em outros lugares continuarão tornando o mercado da UE acessível para produtos chineses subsidiados.
“Em resposta à concorrência percebida como desleal, um número crescente de países está elevando barreiras tarifárias e não tarifárias contra a China, o que redirecionará o excesso de capacidade chinesa para o mercado da UE”, acrescentou o ex-presidente do Banco Central Europeu.
Ele também alertou que manter o mercado da UE aberto para os veículos elétricos fabricados na China “provavelmente não terá sucesso”, já que poderia colocar empregos em risco.
“De acordo com simulações do BCE, se a indústria de veículos elétricos chinesa seguir uma trajetória semelhante de subsídios àquela aplicada na indústria de painéis solares, a produção doméstica de veículos elétricos na UE diminuirá 70%, e a participação global de mercado dos produtores da UE cairá 30 pontos percentuais”, escreveu Draghi.
A disputa entre a UE e a China sobre veículos elétricos ameaça se transformar em uma guerra comercial mais ampla, com Pequim abrindo investigações sobre importações de alimentos e bebidas e ameaçando medidas contra empresas automobilísticas europeias.
No entanto, nas últimas semanas, surgiram sinais de que ambas as partes desejam evitar um conflito maior. Na semana passada, a China se recusou a impor tarifas provisórias sobre o conhaque francês, apesar de ter publicado evidências de dumping no setor. No entanto, a indústria ainda espera que as tarifas sejam aplicadas em uma data futura.