EUA, Israel e imperialismo: a atualidade de “O coração das trevas”, de Joseph Conrad

EUA, Israel e imperialismo: a atualidade de “O coração das trevas”, de Joseph Conrad

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Conrad expõe a desumanidade do colonialismo, que, guiado pela ganância, destrói culturas e vidas, uma realidade que persiste no século 21 sob a égide do imperialismo moderno.

O horror do imperialismo, que destrói o mundo exclusivamente pela ganância imediata, sem nada construir. Os agentes coloniais, transformados em robôs, escravizam as povoações nativas pelo medo, pelo terrorismo e pela fome. As trevas são as trevas que não perderam o coração, mas em seu peito encontram-se somente interesses.

Algo mais atual que “o coração das trevas” representado por Israel no Oriente Médio, sob o patrocínio do imperialismo norte-americano?

André Gide, há um século, escreveu sobre a obra: “É um livro magistral! Nele não sabemos o que admirar mais: o tema prodigioso, a construção, a audácia de realizar uma empresa tão árdua ou o sábio argumento. ”

A arte é a verdade que emociona, comentou o poeta Ferreira Gullar, pois “O Coração das Trevas” “emociona todo espírito que se revolta contra a submissão da humanidade a interesses mercantis e financeiros”.

O filósofo Bertrand Russell, que conheceu Conrad depois de sua chegada à Inglaterra, tinha verdadeiro fascínio pelo livro e por seu autor (o grau de amizade e admiração foi tal que Russell batizou um de seus filhos com o nome “Conrad”).

Joseph Conrad e o berro contra a exploração colonial
Joseph Conrad (1857- 1924) foi um escritor britânico de origem polaca. Viveu no mar a juventude e parte da maturidade e, por isso, muitas de suas obras são centradas em marinheiros e aclimatadas no mar ou nos grandes rios. Em 1890, no comando do navio SS Roi de Belges, participou da exploração colonial da bacia do Rio Congo, que em vinte anos, tornou Leopoldo II, rei da Bélgica, no homem mais rico do mundo.

Dez anos depois, a experiência pessoal de Conrad serve de base para “O Coração das Trevas”, um berro contra a exploração colonial, o escravagismo, o racismo e o genocídio. E todo o seu empenho literário teve esse direcionamento. Um de seus últimos trabalhos, “Nostromo” retratou um golpe de estado na América Latina, fomentado pelo colonialismo yankee. Em 1924, ano de sua morte, o autor “por coerência”, recusou-se a aceitar o grau de “Cavaleiro do Império Britânico”, uma forma clara de protesto contra as políticas colonialistas.

“O Coração das Trevas”
“O Coração das Trevas”, publicado em 1902, instiga pelos temas que aborda, pelas circunstâncias históricas e sociais que ilumina e, sobretudo, pelo nível de barbárie que pode ser cometida pelas nações e pelas pessoas ditas “civilizadas”, quando guiadas pelas ambições políticas e comerciais.

O cenário é o estuário do rio Congo, (atual Zaire), país que foi submetido a uma das mais cruentas, sanguinárias e torpes explorações coloniais da História, pela Bélgica de Leopoldo II. A população do Congo que, em 1850 era estimada em vinte milhões de seres humanos, em 1900 reduzira-se a dez milhões, mortos pela fome, doenças, exaustão no trabalho e massacres. O seu imenso rebanho de elefantes, caçados pelo marfim, foi nesse período reduzido a um terço.

O que aconteceu no Congo que, propositadamente, jamais é nominado no livro, espelha a devastação imperial levada a cabo pela Inglaterra, França, Bélgica, Alemanha, Estados Unidos e Itália, nos continentes da África e da Ásia na segunda metade do Século 19.

*Diálogos do Sul

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