Luis Nassif
Naquele ambiente de otimismo, mal se sabia que, nos anos seguintes, o país ingressaria em uma guerra fratricida, o ódio se espalharia por todos os poros da Nação
São várias as formas da economia. Uma delas é a economia da cultura. A Inglaterra tornara-se uma potência na música, muitos países especializavam-se na filmografia. Ainda mais quando anunciou-se o início da era digital.
O Brasil tinha tudo para se tornar uma potência cultural. Tem a melhor música do planeta e os demais atributos capazes de encantar a juventude: colorido, festas populares, modo de ser brasileiro.
Hollywood foi fundamental para o soft power americano. A música teria que ser para o Brasil, arrastando consigo outros aspectos culturais.
São várias as formas da economia. Uma delas é a economia da cultura. A Inglaterra tornara-se uma potência na música, muitos países especializavam-se na filmografia. Ainda mais quando anunciou-se o início da era digital.
O Brasil tinha tudo para se tornar uma potência cultural. Tem a melhor música do planeta e os demais atributos capazes de encantar a juventude: colorido, festas populares, modo de ser brasileiro.
Hollywood foi fundamental para o soft power americano. A música teria que ser para o Brasil, arrastando consigo outros aspectos culturais.
O tema convenceu o então Ministro da Cultura Francisco Weffort. Constituiu um Conselho da Música Popular para opinar sobre o tema e me convidou para membro. Recusei, para não confundir com minha profissão de jornalista, mas aceitei assistir e reportar as reuniões do Conselho.
A primeira reunião foi no Rio de Janeiro. O conselho era presidido pelo grande Edino Krieger e tinha como membros músicos ilustres, como Paulo Moura e outros. Mas a única voz prática na reunião era de uma moça que trabalhava no mercado financeiro.
Edino abriu a reunião dizendo que, a partir daquele momento, o Conselho opinaria sobre as verbas da cultura – não era bem assim. E alguém opinou que em vez de gastar dinheiro com bandinhas do interior – como o Ministro da Cultura de Itamar, Aluizio Pimenta – iriam gastar com os verdadeiros artistas.
Ai o carro emperrou. Como admirador incondicional da cultura do interior – e, ainda mais, Aluízio Pimenta que, ao lado de meu pai, participou da criação do Conselho Federal de Farmácia – levantei dois argumentos.
O primeiro, que não se poderia ver a cultura do ângulo exclusivo do Rio de Janeiro – que ainda não mergulhara na decadência das décadas seguintes. O segundo, se aquela conclusão – do controle sobre as verbas – vazasse, não haveria uma segunda reunião do Conselho.
Não houve.
Continuei escrevendo sobre o tema. Nos 80 anos do Banco do Brasil, me convidaram para falar na abertura sobre a importância da música para a economia e a diplomacia brasileira. Foi um evento majestoso. Na plateia, políticos, diplomatas, grandes clientes do banco. No palco, uma orquestra do conservatório de Tatuí (que, a propósito, está sendo destruído pela gestão Tarcísio de Freitas).
Sugeri aos organizadores que terminassem o show de forma simbólica: colocando Zé Ketti, apenas com um violão, cantando “eu sou o samba”.
Assim foi. Quando Zé Keti entrou no palco, sentado em uma cadeira, e carregado por duas pessoas (estava com problemas de locomoção) foi uma emoção geral. As luzes do palco apagadas, apenas uma luz incidindo sobre ele, e Zé Keti mostrando a contribuição essencial do negro para a música e da música para o sentimento de país.
O único inconveniente é que ele gostou tanto do momento que não queria mais sair. Saiu carregado pelos dois funcionários, sem parar de cantar.
Continuei com minha defesa da economia da cultura, até que foi eleito Lula e escolheu para o Ministério da Cultura Gilberto Gil. O Ministro chegou acompanhado de um grupo de “malucos belezas” da melhor estirpe, liderados pelo grande Cláudio Prado, neto de Caio Prado Junior. Cláudio conheceu os baianos em seu exílio londrino e montou shows memoráveis, aproximando-os da cultura pop. E era um visionário da nova economia digital. E, organizando a banda, Juca Ferreira, um furacão gerencial, conseguindo colocar em pé todas as ideias do mais criativo Ministério da Cultura da história. Os “pontos de cultura”, material audiovisual para comunidades isoladas, foi um feito extraordinário.
Foi nesse campo fértil que, finalmente, minhas ideias conseguiram plantar algumas sementes. Fui convidado, inicialmente, para uma palestra para os conselhos de música que estavam sendo instalados.
*GGN