Entre o Conselho Rússia e Otan, criado em Roma em 2002, e a Declaração de Washington da recente cúpula da aliança norte-atlântica que acabou de acontecer, há um grande abismo.
Entre a criação do Conselho Rússia e Otan em Roma em 2002 e a recente Declaração de Washington da cúpula da aliança norte-atlântica, há um grande abismo. Em apenas 22 anos, passamos de um mecanismo que visava impulsionar a cooperação entre Rússia e a Organização do Tratado Atlântico Norte (Otan) para uma ruptura significativa. Cinco anos antes da criação do Conselho, a Ata Fundacional havia sido assinada e apresentada como o fim da Guerra Fria. No entanto, a situação evoluiu para um cenário de crescente tensão entre Moscou e Bruxelas. Hoje, ambas as partes enfrentam uma crescente tensão, receios, reproches e ameaças recíprocas, à beira de um conflito armado, que poderia resultar em uma guerra nuclear na qual, por definição, não pode haver vencedor.
Em Roma, os presidentes russo, Vladimir Putin, e estadunidense, George W. Bush, acordaram — quando três anos antes Hungria, República Checa e Polônia já haviam ingressado na Otan — dar uma nova qualidade à sua relação de aliados para “lutar juntos contra ameaças e riscos”, assim como “construir uma paz duradoura e aberta a todos na região euro-atlântica, baseada nos princípios da democracia, da segurança e da indivisibilidade de todos os Estados dessa comunidade”.
Apenas dois anos mais tarde, em 2004,outros seis países, entre eles as três repúblicas bálticas que faziam parte da União Soviética entraram na aliança norte-atlântica, apenas duas semanas depois da primeira reeleição de Putin. Era a quinta ampliação da Otan desde sua fundação em 1949. A mais recente, a décima, ocorreu em março passado, quando a Suécia se incorporou.
O Arquivo de Segurança Nacional dos Estados Unidos desclassificou esta semana 18 documentos secretos que trazem informações inéditas sobre como se gestou a ampliação da Otan nos anos 90 do século 20 e a reação da Rússia.
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Por razões de espaço, é impossível resumir todos, porém, convém destacar parte da conversa em 21 de março de 1997, entre os presidentes da Rússia e dos EUA. Dois meses antes de encerrar a Guerra Fria, Boris Yeltsin disse a Bill Clinton: “Nossa posição não mudou. A ampliação da Otan para o leste é um erro. Assinarei (em 27 de maio) a Ata Fundacional com a Otan não porque quero, mas porque é um passo necessário. Hoje, não há outra solução”.
Clinton rejeitou a petição de Yeltsin de não ampliar a Otan para o leste e, em 1999, começou a expansão.
*Diálogos do Sul