Os “incêndios do Reichstag” do século 21: como a direita se apropria da narrativa na guerra de quinta geração

Os “incêndios do Reichstag” do século 21: como a direita se apropria da narrativa na guerra de quinta geração

Compartilhe

Não, não estamos diante de uma tentativa de se criar uma teoria conspiratória mirabolante em que Trump e seus comparsas teriam forjado um atentado que seria algo o mais próximo de um devaneio suicida para se beneficiar eleitoralmente. Mesmo porque nem ao menos isso era necessário dado o grau de debilidade de seu contendor Biden. Entretanto, em que pese a brutal realidade de uma tentativa de homicídio contra Donald Trump, não podemos de forma alguma nos dar a liberdade de anular o espírito crítico acerca dos eventos do século 21. Trump não apenas teve uma sorte milagrosa como também ganhou de presente a renovação de uma sedutora narrativa de vítima. Trump se coloca no lugar de herói protegido pelos “deuses” e tem a “faca e o queijo” na mão para retornar ao poder dos EUA em meio a uma profunda crise civilizacional pela qual não só o país vive como o Ocidente em bloco. Nem que Trump tivesse forjado uma situação de vítima teria obtido tamanho êxito, que se estende até certo ponto para seus simpatizantes políticos Mundo afora.

Percebemos aqui que nem sempre é necessário se dar ao trabalho de manipular o horizonte de eventos para garantir a vantagem de escrever o roteiro em meio uma ordem em que a “História é escrita pelos vencedores”. Certamente, este episódio se soma a uma coleção de eventos que beneficiam a direita na sua marcha para prolongar a crise e impedir os mecanismos que por ventura coloquem a urgência de uma transformação na ordem do Capital. Apostam no prolongamento do Status quo, ainda que este estado de coisas signifique destruição total e completa.

O episódio do atentado contra Trump já começa a estimular um sistema renovado de inquisição Mundo afora, novos “incêndios do Reichstag” se articulam em bloco. O atentado contra Donald Trump é a gasolina ou o óleo querosene usado para “apagar” o incêndio ou o combustível que a direita precisava para levar a “Guerra de Quinta Geração” para o próximo nível. Essa situação seria conduzida independentemente do atentado. O evento do último dia 13 de julho talvez tenha acelerado este processo de busca incessante por bodes expiatórios que tentam fazer o “Macarthismo” da década de 1950 virar “brincadeira de criança”. A comparação mais adequada talvez seja a tentativa da direita em colocar a esquerda como o novo “judeu à espreita” que se tinha na Alemanha nazista.

Há muito o Pentágono produz artigos militares para criar uma narrativa de contra tendência e garantir a permanência da atual correlação de forças em que não só os EUA mantém-se como um poder dominante na Geopolítica global como também o sistema do Capital (apesar deste colapsar continuamente desde ao menos a década de 1970). E isso não é um teoria da conspiração como muitos almejam insinuar, estes artigos são de domínio público. O objetivo da direita é o de neutralizar os riscos que por ventura se aproximam ainda que, para tal, tenha que se apoiar no radicalismo da extrema direita. Na História da humanidade o acervo de exemplos é vasto – inclusive no próprio caso do Nazifascismo.

Atualmente, este esforço conta com tecnologias avançadas como inteligência artificial, ciberataques, guerra eletrônica e operações psicológicas. A maior parte da população global não dispõe de recursos financeiros ou o tempo necessário para repercutir esta dinâmica e, em realidade, a maioria renuncia do próprio esforço de considerar a existência de um mecanismo de poder que cria e recria narrativas para fins nem um pouco republicanos. Preferem, ao contrário, viver no mundo das ilusões do “pão e do circo” (hoje exemplificados talvez na sua maior inteireza pelos aplicativos de apostas online – que prometem fortunas e uma vida inatingível).

Compartilhe

%d blogueiros gostam disto: