Não fossem tão apegados à tal objetividade dos fatos, poderiam ter avançado nas investigações e até dado crédito para o porteiro – que sumiu.
A matéria da Folha, mostrando que Jair Bolsonaro, em 2009, auxiliou Ronnie Lessa em seu tratamento médico é mais uma peça no quebra-cabeça que, mais cedo ou mais tarde, irá bater na porta dos Bolsonaro e de militares que aderiram ao governo Bolsonaro.
Aqui, apresentamos diversas evidências da participação dos Bolsonaro no crime, não necessariamente como mandantes, mas como participantes do planejamento. Em parte, essas investigações foram prejudicadas pela ingenuidade arrogante do deputado Marcelo Freixo. Dono de uma coragem admirável, que o fez enfrentar o crime organizado do Rio de Janeiro, Freixo acabou ajudando no processo de manipulação das investigações.
Ele se tornou uma das fontes referenciais da imprensa, por seu óbvio e corajoso protagonismo no enfrentamento das milícias. Mas quando uma das peças centrais foi revelada, ajudou o delegado Rivaldo Barbosa a tirar o foco das investigações. Não por cumplicidade, mas por ingenuidade.
Trata-se do episódio em que Carlos Bolsonaro se gravou mostrando o monitor do sistema de telefonia do condomínio Vivendas da Barra. Lá pelas tantas, chega um Uber para a casa de Carlos. O porteiro é claro. Faz a ligação e avisa:
Seu Carlos, o carro chegou.
Carlos Bolsonaro explica, então, que era um Uber que foi pegá-lo, e não o carro que pegou Ronnie Lessa para o atentado. Ora, ali estava a prova insofismável de que Carlos Bolsonaro estava no condomínio no mesmo momento em que os assassinos de Marielle saíram de lá para executar o crime. Ora, o mesmo Carlos Bolsonaro apresentara como álibi o fato de, naquele momento, estar na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro.
Levantamos a suspeita aqui e a reação de Freixo foi a de que, na verdade, tratava-se do primo de Carlos Bolsonaro. Acreditou piamente na explicação do delegado Rivaldo.
Recentemente, criticou especulações sobre os mandantes do crime. Dia desses, entrevistei um bravo repórter da imprensa carioca, que disse trabalhar apenas sobre fatos, não sobre especulações. Consideram fatos o que é apurado por organizações públicas – como o Ministério Público ou a própria polícia. Toda investigação competente começa a partir de deduções, de uma teoria do fato. É a partir dela que a investigação fica objetiva, os fatos são filtrados e as teorias são remodeladas de acordo com as novas descobertas.
Se não fossem tão apegados à tal objetividade dos fatos (Nelson Rodrigues tinha uma definição para esse tipo de comportamento), poderiam ter avançado nas investigações e até dado crédito para o porteiro – que sumiu.
Pontos para especular:
- O interventor Braga Neto e o Secretário de Segurança Richard Nunes se conheciam há tempos.
- Tanto eles, quanto o general Hamilton Mourão eram contra a intervenção, supondo que fosse uma jogada de Michel Temer para assegurar eleições em 2018, sem Lula.
- Logo após o assassinato de Marielle, Braga Neto solicitou reunião urgente com Michel Temer e com o Ministro da Justiça Raul Jungmann.
- Na mesma época, Jungmann admitiu que havia interesses muito poderosos por trás da morte de Marielle. E mais não disse, porque não foi provocado. Afinal, repórteres e o deputado Freixo só trabalham em cima de fatos.
*GGN