Graças à Nova Indústria Brasil (NIB) – principal aposta do governo Lula para a reindustrialização –, o País pode se tornar a “Arábia Saudita da energia verde”. Assim como os sauditas aproveitaram sua reserva de petróleo – a segunda maior do mundo – para alavancar a economia e se transformar num importante ator global, o Brasil pode se consolidar como referência em desenvolvimento sustentável.
A opinião é do economista Rafael Lucchesi, diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI (Confederação Nacional da Indústria). Nesta terça-feira (12), Lucchesi participou, por videoconferência, do seminário “Nova Política Industrial a Serviço do Desenvolvimento do Brasil”. O evento foi promovido pela CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), em sua sede nacional, na cidade de São Paulo.
Ao fazer um histórico do avanço da indústria no País, Lucchesi lembrou que, até a década de 1930, o Brasil ainda era um país rural. “Tivemos uma industrialização retardatária, típica de países sob o chamado capitalismo tardio”, afirmou o expositor. O marco inaugural da ruptura é a Revolução de 30, que leva Getúlio Vargas ao poder.
O Brasil, segundo Lucchesi, reagiu bem à crise de 29 e iniciou um período de 50 anos de elevado crescimento econômico sustentado pela indústria. “A Argentina chegou a ter um PIB per capita maior que o da Alemanha, mas tentou insistir no modelo agroexportador. Esta é uma das razões pelas quais o Brasil recupera já em 1932 seu PIB de 1929 – enquanto a Argentina só recupera em 1949.”
Recorrendo à expressão da economista Maria da Conceição Tavares, que faleceu no último sábado (8), Lucchesi disse que houve uma “modernização conservadora” no Brasil. “Esse crescimento levou o Brasil a ser a quinta economia do mundo em termos de paridade de compra em 1986 – anos em que ultrapassamos a França e colamos na Itália. Mas a renda ficou fortemente concentrada.”
Na década perdida de 1981 a 1990, a explosão da dívida externa e a hiperinflação afundam a economia brasileiro. A isso, para piorar, sobrevêm as medidas e as regras do “Consenso de Washington”, que enterra de vez o ciclo ascendente da economia brasileira. São tempos de desregulamentação e austeridade fiscal, abertura do mercado e privatizações. A desindustrialização, já em curso, se agrava, segundo o Vermelho.
“Perdemos a capacidade de planejar a longo prazo depois que o Consenso de Washington impôs o Estado mínimo”, resume Lucchesi. “Ao mesmo tempo, há uma mudança de hegemonia: o rentismo ganha mais força na definição da agenda pública do País.”
No mundo, a China – “única economia periférica que não recorreu à terapia de choque” – sobressai como uma espécie de vencedora da 3ª Revolução Industrial. “Na Paridade do Poder de Compra, o PIB chinês ultrapassa o PIB brasileiro em 1990, o do Japão em 2000 e o dos EUA em 2017”.
As perdas em estrutura e complexidade produtiva se acentuam com a operação Lava Jato, que, conforme as palavras de Lucchesi, “destrói nosso núcleo de produção”. As quatro maiores construtoras do País (Odebrecht, Camargo Correia, OAS, Andrade Gutierrez) são feridas de morde. “
“Quando grades esquemas de corrupção ou crimes são descobertos, nenhuma sociedade madura destrói suas empresas, como Ford, Siemens e Samsung. A regra é punir os responsáveis e proteger as empresas”, diz o diretor da CNI. “Aqui, fizemos o contrário: destruímos empregos e a engenharia nacional, num crime de lesa-pátria. Só a Odebrecht tinha 200 mil funcionários e estava presente em 30 países”.
Se a 4ª Revolução Industrial já “produz assimetrias”, esse “admirável mundo novo” muda a percepção sobre o papel do Estado na economia. Nesse sentido, Lucchesi elogia a Nova Indústria Brasil, com suas seis missões.
Uma delas, a quinta, trata de “bioeconomia, descarbonização e transição e segurança energéticas para garantir os recursos para as futuras gerações”. É nessa área, em especial, que o Brasil tem condições de ser a “Arábia Saudita da energia verde” e assumir protagonismo global. “Podemos ter energia verde em abundância e qualidade, segura e barata.”
Num aceno aos trabalhadores, ele reiterou que o setor industrial é capaz de gerar mais postos de trabalho e distribuir melhor a renda do que a agropecuária. “A indústria gera dez vezes mais empregos do que a agricultura e a pecuária, além de pagar salários 50% melhores”, compara. “Da riqueza da agropecuária, 84% vai para o capital e 16% para o trabalho. Da riqueza da indústria, o capital fica apenas com 52%, e o trabalho, com 48%”, conclui Lucchesi.